Poemas de amor :  Ainda bem que é só desejo
Ainda bem que é só desejo
O seu corpo me chama...
Então arrasto você pra cama,
me lambuzo, me embriago,
enquanto que você
não toma nem um trago.

Você não brinda comigo...
Você só brinca.
Se sente no poder
quando me vê
ardendo de desejo...

Ainda bem que é só desejo.
Pois o desejo, depois de saciado,
acaba passando.

Pior seria se eu estivesse
desesperadamente lhe amando.
Imaginem o que eu estaria passando...

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Sonetos :  Na peleja do desejo
Na peleja do desejo
Se esta mulata sambasse,
talvez me derrotasse.
Talvez me derretesse
e até me fritasse.

Se esta gata me amasse,
talvez eu voasse
e assim vivesse
eternamente no céu.

Mas eu tiro o chapéu
para esta gata,
para esta mulata;

Para esta mulher
que pode fazer
o que quiser...

Me mata!

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Crónicas :  A vida é como um rio
Viver desejando o passado, não serve... O passado só existe na nossa mente e nas imagens. Para a vida não existe passado nem futuro. Para a vida só existe o presente. Ela segue em frente transformando o amanhã em hoje, sem se importar com o ontem. O ontem não existe mais. E nós ficamos tentando situar-nos no tempo, entre um passado bom e um futuro incerto. Quando o passado foi bom, ficamos tentando repeti-lo sempre. Mas a vida segue adiante, a vida não se repete. Tem certas coisas que nós achamos que está acontecendo novamente, mas para a vida nunca é a mesma coisa. Sempre existe alguma modificação (para melhor ou para pior) que nós não percebemos.

A vida é como um rio que dá voltas e voltas, mas nunca volta a se encontrar. Ele pode voltar para a mesma direção, nunca para o mesmo ponto em que resolveu virar. E, muitas vezes, quando ele volta para a mesma direção, já não é o mesmo rio. Pode estar com outro nome, pode estar mais caudaloso, por culpa dos afluentes, pode estar poluído... Assim mesmo é a vida. Ela pode dar voltas. Mas nunca volta ao mesmo ponto, porque o tempo já é outro.

A.J. Cardiais
Poeta

Poemas :  Beijo-te
Beijei-te ao anoitecer
Entreguei-me, foste minha
Foi todo nosso, o prazer
E com prazer fiz-te rainha.

beijei-te, vi-te adormecer
Quis no teu sonho entrar
Adormeci sem te perder
No meu sonho vi-te chegar.

Beijei-te ao amanhecer
Acordei-te, vi-te partir
Sorriste como que a dizer
Para te esperar a sorrir.

Beijei-te ao entardecer
E quero em cada regresso
Mostrar-te meu bem querer
Todo este amor que confesso.

Beijei-te em pensamento
Beijo-te sempre que posso
E todos os beijos que invento
São do amor que é só nosso.

Beijei-te, trocámos um beijo
De alma correspondida
Desejei-te, foi nosso desejo
Amei-te, ganhámos a vida.

tavico
Poeta

Sonetos :  Indisciplinado
O meu pecado
é não ser disciplinado.
Não gosto de seguir
nenhum caminho traçado.

Quando sou forçado,
sigo até onde aguento...
Quando não dá, arrebento
e tomo o rumo do vento.

Nem acorrentado estou preso.
Meu sonho, meu pensamento,
satisfazem meu desejo.

Minha poesia é o momento.
Tudo que sinto ou vejo
transforma-se em meu alimento.

A.J. Cardiais
Poeta

Poemas de desilusión :  FALÉSIAS
FALÉSIAS
Dirceu Rabelo

Não prometa ficar
Não jure me amar
Eternamente
Não tente me confundir
Com suas juras
Não me fira
Com seus nadas
Devaneios
Desvarios
Incertezas
Lágrimas nesgas
Escarnecidas
Escorregando
Por sua cara
Mentirosa
Como chuva
Rasgando falésias
Turvando o mar
(Não é o que eu quero!)
Almejo a paz
Do beijo sincero
E de cúmplice olhar
Da mão segura – desvelo
Do calor do corpo
Em sexo demorado
Repleto de amor
Apaixonado
Sem cobranças
Único
Começar de novo!

Poeta

Poemas de reflexíon :  Natureza Irônica

Rosas enfurecidas
Uma a uma se desfazem
Imperfeitas a tornam a si
Corpo violentado e sangrado
Carne vegetal em cinzas espalhadas
Na pira que não cessa, exumadas
Logo após em noiva se transforma
Em algoz, lúgubre insensata
Equilibra-se em falso casamento
E rude se apanha num jardim
Fétidas entre outras se destacam
Eis agora um sorriso arrogante
Ironia de quem chega ao inverno são
Pois troca de roupa e de vida
Tão depressa morre
Sorrindo e satisfeita
Mal pode esperar
A ira que a trás novamente.


Poeta

Poemas de esperanza :  Rosa de Hiroshima

Estranhas pétalas cinza
De uma rosa estarrecida
Perfume suave como a morte
Esse tal perfume inseticida
Rosas estranhas que envergonham
Que caiu sobre Hiroshima.

Estranhas pétalas cor de rosa
De uma rosa assombrosa
Veio do céu o desespero
E o desejo homicida
Sobre esta rosa cor de rosa
Dolorosa de Hiroshima.

Estranha essa dor que é sentida
O odor que sente Deus
Inalados por sua ira
Essa flor de corpo cinza
Rosas mórbidas, sólidas, escandalosas...
Sorriso frustrado de menina;

Jamais terás por esquecida
As pétalas de tua rosa
Que apesar de dolorosa
Jamais serão vencidas.

Poeta

Poemas de desilusión :  Coração Doente

Quando dói o coração
Não tem jeito
São lágrimas que vem de dentro
Do fundo do peito
Não sou perfeito
Sou pensamento
Sou folha seca
Que baila no vento
Sem tom, sem cor, sem sabor...
Barco que navega entre a dor
Encalhado no porto
Sem calor, sem amor...
Deveras, eu soubesse
O dia de amanhã, zombaria de hoje...
Esqueceria o ontem
Renasceria depois de amanhã
Mais... Quando dói o coração
O orgulho chora baixinho
De mansinho, bem de mansinho...
É o medo da solidão
Se faz presente todo momento
A transparência do sentimento
Não a hipocrisia, apenas lamentos...
Liberdade sofrida de expressão
Os olhos falam o que sente o peito
Pudera olhares em meus olhos
E conversares com meu coração.


Poeta

Poemas de religíon :  Obra da Teosofia

Coração é terra que ninguém anda
É órgão que inflama que reclama...
Desiludido pelo sentimento que engana
Coração partido de saudade leviana.

Coração é traído pelo desejo
Manipulado pelo beijo, subordinado pelo seio...
Ludibriado pela malícia do meu pensamento
Funeral sem cortejo, fome sem sustento.

Coração é esculpido pelas mãos do destino
É imagem perplexa do desatino
Criança sem face, odre de vinho envelhecido...
No espelho do passado reflexo irrefletido.

Coração é valente nas batidas do peito
Estação de folhas secas carregadas pelo vento
Coração é covarde amedrontado pelo medo
É inverno sem saudade céu nublado e cinzento.

Coração é lápide de mármore, histórias frias
Que pulsa dentro ao peito, nas batidas pela vida...
Estranho pergaminho, de palavras escondidas
Do engenheiro lá do céu, a mais pura obra prima.



Poeta