|
Toca o sino pela aurora Incessante e lá do alto Solta um breve sobressalto Por quem teve a sua hora .
Quem será? pergunto ao vento Que transmite com perícia O que a igreja faz notícia E é de morte o sentimento .
Toca o sino alguém chora Oiço aqui do vento norte Um pesar por triste sorte,
Mas quem a sente por fora No tempo não se demora E há vida depois da morte .
tavico
|
Poeta
|
|
Joguei-me ao mar que eras tu Por um chamamento que ouvi E nas tuas ondas, amor bebi, Embebedei-me de azul Ninguém me salvou daqui E fiquei de ressaca de ti.
São inebriantes os teus tons De verde água e azul-marinho Que me entontecem o caminho Nestes momentos tão bons E noutros que te imagino Quando estou no mar sozinho.
Flutuei nas tuas águas Estive em marés de chorar Mas amei-te sem me afundar Afoguei em ti minhas mágoas Até em ti me encontrar E sentir a alegria a chegar.
Alguém disse, o mar enjoa Pode até ser turbulento Quando domina o cinzento Mas vem meu amor , me abalroa Me envolve de cabelos ao vento Com a maresia para meu alento.
No meio dum mar de amor Sosseguei, estou ancorado Nem desejo ser resgatado Vejo a lua e o sol pôr Cá do mar que me tem amado E continuo apaixonado.
tavico
|
Poeta
|
|
Porquê? só a morte de um amigo Nos confunde em marés de emoções Emolduradas com tantas e tantas questões Numa partilha de tamanho castigo
Numa impotência que nos condena Nuns olhares de palavras mudas Num apaziguar de bocas linguarudas Ao pesar aquilo que não vale a pena.
Numa raiva onde desmoronamos Numa vida demais injusta e atroz Em lágrimas que nos abafam a voz Numa verdade em que não acreditamos.
É essa a verdade que se atrasa E nos encontra talvez mais tarde Quando nos aperta a saudade E por uns momentos nos arrasa.
É com muito amor que as evito Esta verdade e a saudade em mim A vida de um amigo teve um fim Mas em minha alma o ressuscito.
Tenho-te bem vivo na memória E o prazer de rever cada passagem Com o mundo ouvinte da história Que conto em tua homenagem.
tavico
|
Poeta
|
|
Esse teu rosto é inconfundível, De olhar caído, reservado E numa ausência desprezível Em penitência, choras teu fado, Sem horizonte e envergonhado Com lágrimas de sonhos traídos Em planos e amores volvidos Que a vida te tem ofertado.
E esse teu andar de pobreza De espírito aos ombros, descaídos, Como quem carrega a tristeza, Como quem perdeu a certeza De recuperar os velhos sentidos
E essas tuas mãos, inquietas, Que apalpam o futuro com medo Num presente que não projectas Para lá das paredes secretas Que de tua alma fazes degredo
E esses teus passos seguem o rodopio De tantos pensamentos irresolutos Que fazem de cada desejo um vadio Em qualquer dia que repassa sombrio Esse dom de propósitos devolutos.
Nas palavras que te ouço, revistas E poupadas, em curtas frases Entendo mil histórias fatalistas Com terminações pessimistas Na realidade que contrafazes.
Reconheço-te em quem se lastima, Em ti me vi e assim, já te conheço… Acontece, a quem de ti se aproxima, Ficar sem um pingo de auto estima Para enfrentar a vida com apreço.
Em oposição a qualquer felicidade Tu existes e resistes vazia de nada Mas num injusto atentado à verdade Ainda te confundem com a saudade, Os que não te conhecem desmascarada.
tavico
|
Poeta
|
|
Noutro fugaz intuito Meu, de alcançar o horizonte Alguém que anda a monte Dá-me um encontro fortuito, Um ser, nunca vi, tão vazio Que, sem eu querer, me dá pena Ver esperança tão pequena E só, em tal desvio . Quero tratá-lo de amigo Ao homem que não me dá mão Desconfio de solidão Que não tem o coração consigo, Literalmente me disse Que dinheiro já não tinha Nem um emprego lhe vinha Nem nada que lhe sorrisse, Que morreu para a amizade Numa família onde está a mais É órfão de deus e dos pais Com saudades de ter saudade, Ó homem de coragem louca O que eu disser ás condições Em que vives, serão palavrões Pois sem palavras me fica a boca .
tavico
|
Poeta
|
|
Caem-te pelo rosto caído Lágrimas que troco por beijos Sem conhecer, enternecido, Qualquer dos teus desejos E vou, de emoções contido, Encontrar esse olhar raso No meu que leva o ocaso Para uma tristeza sem sentido .
Sem sentido porque és linda Fazes-me rever aquele brilho Dos teus olhos, que me é ainda A alegria onde me humilho E a luz que o amor me brinda Que não quer que sejas triste Que trago comigo e se existe A felicidade, seja bem-vinda .
Ainda trémula, a tua mão na minha Seguro, entrelaço os dedos Por mim um arrepio na espinha Como se lesse dos teus medos Uma solidão que já me tinha Tentado com uma cilada E agora em ti minha amada Nessa tristeza se adivinha .
Mas eu não deixo, insisto Lábios nos lábios te chamo Voltas a ti, te conquisto Ai amor como eu te amo E do esboço que em ti avisto A tristeza que te amenizo Dá lugar a um largo sorriso Que me diz que em ti existo .
tavico
|
Poeta
|
|
Vou esperando sentado Por esse bem demorado Mas já palpito de sede Que esta espera não mata E fico sem hora nem data Como um tolo desesperado Num arrojado salto sem rede.
Só espero sair deste fosso É que estou já que nem posso Com a minha fé a ceder Mas enquanto espero existo Quando quero até resisto E faço do amor o meu osso Que me é tão duro de roer.
Espero um último ai Duma esperança que cai Aos pés daquilo que fiz Mas na espera que ocorre Algo há que não morre Como uma força que vai Ajudar-me a ser feliz.
Espero-a não sei de onde Nem sei se me responde Ai o tempo que me é pouco Mais um minuto de espera Será amor? quem me dera... Então porque se esconde E me vai deixando louco?
Espero-te na minha rua No mar, no campo, até na lua Mas...ó amor sem lugar Com a espera eu não avanço Sem amor eu não descanso E a minha vida será tua Se me quiseres abençoar.
Espero-te a cada dia A cada noite por via Do amor que tu me dás E na espera em que estou Pelo amor que eu te dou Sei de quanta alegria O teu amor é capaz.
tavico
|
Poeta
|
|
Beijei-te ao anoitecer Entreguei-me, foste minha Foi todo nosso, o prazer E com prazer fiz-te rainha.
beijei-te, vi-te adormecer Quis no teu sonho entrar Adormeci sem te perder No meu sonho vi-te chegar.
Beijei-te ao amanhecer Acordei-te, vi-te partir Sorriste como que a dizer Para te esperar a sorrir.
Beijei-te ao entardecer E quero em cada regresso Mostrar-te meu bem querer Todo este amor que confesso.
Beijei-te em pensamento Beijo-te sempre que posso E todos os beijos que invento São do amor que é só nosso.
Beijei-te, trocámos um beijo De alma correspondida Desejei-te, foi nosso desejo Amei-te, ganhámos a vida.
tavico
|
Poeta
|
|
Vi-te, olhos nos olhos, Por mim a passar Uma saia aos folhos, E em mim a rodar Fascinação.
Segui-te, Numa sala repleta Mandei meu olhar Numa volta discreta Para tentar Aproximação.
Um convite Do instinto atrevido, Dum sorriso que avança Para o apetecido Jogo de dança E sedução.
A curiosidade cresce No malandro revés Desse olhar, Nossos reparos Rodam em desencontros Numa vontade Desinteressadamente falsa, Continuamos a dançar, Mas separadamente, Uma sedutora valsa.
Senti-te Num roçar de braço, Tão perto que estou Subtil embaraço Que me acelerou O coração.
Conheci-te, Já apresentados Não sei o que faça Um pouco corados Quase sem graça E emoção.
Perdi-te No alcance da vista O jogo acabou Gorou-se a conquista E tudo ficou Na ilusão.
tavico
|
Poeta
|
|
Do teu corpo me lembro, De cada sombra, Cada membro, Do teu rosto, de ti Em palavras diluída Onde me distraí E encaro De como eras merecida De um reparo
Algo ingrato, Perdi-me Mas da memória turva Te resgato, Nítida e sublime, Em cada curva Onde te senti De prazer E sem ti Me invade Um querer De saudade.
tavico
|
Poeta
|
|