|
Oito vezes fui ao cais
esperar-te,
ansiando o teu regresso.
Oito vezes, até mais
pois só à décima me devolveram o teu corpo.
Vinhas de gesso vestido
os lábios, de carmesim pintados
os cabelos negros enrolados
e as mãos roxas sobre o peito,
em cruzeta.
Oito vezes quis morrer,
talvez mais, não o sei.
À décima, me quedei
e as oito lágrimas que deitei
guardei-as numa gaveta.
Ao cais, não mais voltei.
|
Poeta
|
|
Ah, se eu pudesse
aprender a contentar-me
com o brilho das estrelas
sem querer conhecê-las...
Se eu pudesse fugir aos meus pensamentos,
intensos descontentamentos e aos seus porquês...
Talvez pudesse dormir
sossegar de querer novos impossíveis
todos os dias
saborear apenas a paz de um instante
o sol a brilhar
uma folha a cair.
Ah, se eu pudesse...
|
Poeta
|
|
O que nos fizeram, escriturários deste desnorteado tempo, foi arrebatarem-nos a possibilidade de nos banharmos tal como puros Narcisos nos lagos profundos da nossa melancolia e daí extrairmos a elementar inspiração. Sofremos de falta de criatividade e sem podermos recorrer à benesse catártica da escrita, por aqui nos quedamos em meras banalidades, sabendo que qualquer coisa que dissermos já foi dita e bem melhor.
MRLEAL – 07.08.2012
|
Poeta
|
|
El padre reza Piensa que habla con dios y reza. Quien escribe, finge. Se sumerge en el dolor del mundo y se deleita en él. Lo corteja, la enamora, impudoramente, en la certeza de la entrega, glamurosamente…
Y cuando sonríe es sólo para ella.
Trad. por Gustavo Arturo Restrepo/ poema de Maria do Rosário Leal
O fingidor
O padre reza. Pensa que fala com deus e reza. Quem escreve, finge. Mergulha na dor do mundo e deleita-se nela. Corteja-a, namora-a, despudoradamente, na certeza da entrega, glamorosa…
E quando sorri é só para ela.
MRLEAL – 01.07.2012
|
Poeta
|
|
Hasta el despuntar de la aurora, otra noche que llega y lo que siento es, Cruelmente, una cosa distinta de lo que digo. Otra noche exuberante de imágenes de las cuales desconozco las palabras precisas para los sentidos que despiertan. Otra noche en que voy a escribir todo lo que existe en todas las lenguas Vivas y muertas, inventar nuevas, usarlas todas de una vez en una lujuriante oda triunfal de todo lo que soy y de todo lo que seré sin fecha cierta para terminar e destruirla en rudos pedazos e olvidarla. Escribir la perfecta composición sólo para entretenerme. Car cuerpo y voz a todas las voces y en un ápice erradicar todo e cualquier angustia sólo para que dejen de molestarme. Reír de mi tragedia, llorar por ella, permitirme ser todo entre las cuatro paredes de mi alma hasta que el primer rayo de luz flameante del casi eterno despuntar de la aurora entre por mi ventana y me abrace! Una Noche como cualquiera otra.
Trad. Gustavo Arturo Restrepo
"Até ao raiar da aurora, outra noite chegada e o que sinto é, impiedosamente, uma coisa diferente do que digo. Outra noite repleta de imagens das quais desconheço as palavras certas para os sentidos que despertam. Outra noite em que vou escrever tudo o que existe em todas as línguas vivas e mortas, inventar novas, usá-las todas de uma vez numa luxuriante ode triunfal de tudo o que sou e do que serei sem data certa para acabar e a seguir esfarrapá-la em rudes pedaços e esquecê-la. Escrever a composição perfeita só para me entreter. Dar corpo e voz a todas as vozes e num ápice erradicar todo e qualquer mal-estar só para que parem de me incomodar. Rir da minha tragédia, chorar por ela, permitir-me ser tudo entre as quatro paredes de mim até que o primeiro raio de luz flamejante do quase eterno raiar da aurora entre pela janela e me venha abraçar! Uma noite como qualquer outra.
MRLEAL - 26.05.2012
|
Poeta
|
|
Sinto no rosto o vento morno que me convida a entrar. Parece amistoso, sereno, como quem diz : -Nada tens a recear… Ser-lhe- á, talvez, indiferente que eu entre ou que fique nesta dúvida permanente, e que exista num balançar inconstante entre partir e ficar…
MRLEAL – 20.05.2012
|
Poeta
|
|
Escorre-se-me o tempo, inteiro pela janela fechada. Debato-me por um instante, apenas um, antes de partir. Que me perdoem os livros que não li e que se cumpra a pena, fatalmente. Arderei, serenamente, no vazio imenso do inferno sem mais nada que fazer senão esperar por ti .
MRLEAL – 20.05.2012
|
Poeta
|
|
Cómo decirte, Sin que lo sepas que si me lo pidieras Te daría un universo.
Como mantener lejos de ti este secreto, Totalmente desvelado, en cada mirar ... en cada gesto.
Como esconder hasta morir, Esta llama ardiente en mi pecho Cuando te veo.
Como matar este vil deseo Sin que te acaricie Sin que te posea.
Trad. de Gustavo Arturo Restrepo
“ Como dizer-te, sem que o saibas que se mo pedisses dar-te-ia um universo.
Como manter longe de ti este segredo, tolamente desvendado, em cada olhar em cada gesto.
Como esconder até morrer, esta chama ardente no meu peito quando te vejo.
Como matar este vil desejo sem que te toque sem que te tenha.”
MRLEAL - 2012
|
Poeta
|
|
Seca
Escribo Tardíamente, Para quien quiera y pueda leer Palabras que me salen a torrentes, Descontroladas, Agonizantes, Palabras inciertas, inconstantes A chorros En furores cautivantes. Perdidas en el éter, devueltas Desde lo alto por las lluvias que este año tardan en llegar. Se siente, en el aire Amargura, cansancio. …. Las escucho, En estados febriles. Las escribo en los tiempos muertos. Tradução de Gustavo Arturo Restrepo
"Seca
Escrevo tardiamente, para quem quiser e puder ler palavras que me saem em rompantes descontrolados, agonizantes. Palavras inseguras, inconstantes aos jorros e golfadas cativantes. Perdidas no éter, ser-nos-ão volvidas por altura das chuvas que este ano teimam em tardar. Sente-se no ar amargura,cansaço. ... Oiço-as, em estados febris. Escrevo-as nos tempos mortos."
MRLEAL – Abril 2012
|
Poeta
|
|
Balancea los pies
En la orla del puerto
Sobre las rutilantes aguas
El poeta.
Contempla hasta no poder más,
Sabe que su cuerpo ya no aguantará
Un próximo viaje
Hace mucho que dejó de estar por ahí
Rumiando la belleza de algún pensamiento
O de escurrirse en él
Por él
A través de él.
Las palabras ya no sirven para nada
Nunca más servirán
Ahora que se detienen.
En vano.
Se escapa de nuevo el pensamiento.
No sabe,
Cualquier ruido o color
U otra cosa cualquiera,
Son ahora su aire o su sustento
Imposibles de agarrar.
Traducción Gustavo Arturo Restrepo
"Balança os pés
na beira do cais,
sobre as rutilantes águas
o poeta.
Olha até não poder mais.
Sabe que este corpo já não aguentará
a próxima viagem.
Há muito que se deixou ficar por ali
a saborear a beleza de algum pensamento
ou a escoar-se nele
por ele,
através dele.
As palavras já não servem o seu intento.
Nem nunca serviram
agora que se detém.
Em vão.
Foge-lhe de novo o pensamento.
Não sabe,
qualquer ruído ou cor
ou outra coisa qualquer,
são agora o seu ar e o seu sustento.
Impossíveis de agarrar."
Poema de Maria do Rosário Leal
|
Poeta
|
|