Poemas :  Eu não me fiz
Eu não me fiz
Eu não me fiz poeta...
Não me acho poeta.
Mesmo porque
não sei qual a diferença.

O que é ser poeta?
Lunático, romântico, sonhador,
tecedor de palavras,
atirador de versos,
guerrilheiro de ideias,
ou alguém que sabe
manipular palavras em versos?

Eu, que sempre fui como sou,
não sei dizer o inverso.
Sempre amei, comi, bebi, sofri...
Andei por lugares desconhecidos,
sem para quedas, sem guarda chuvas... **
(Jorge Luiz Borges não fez nada disso).

Sempre procurei saciar
todas as minhas sedes.
Agora estou aqui me perguntando:
isto é ser poeta?

A.J. Cardiais
imagem: google

** Jorge Luiz Borges
Em: Instantes - Doces Palavras
Poeta

Sonetos :  Soneto macambúzio
Soneto macambúzio
Esta casa suja,
este frio aqui dentro...
Este agouro,
este lamento...

Este viver torto
por linhas certas.
Estas ideias complexas
à procura de vida...

Esta necessidade de ser:
ser alguém, ser algum
e acabar sendo nenhum...

Esta necessidade de lutar
para “se realizar”...
Viver, é como guerrear.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Crónicas :  Pensamentos da madrugada
Pensamentos da madrugada
São três horas da manhã e eu estou aqui, escrevendo... Deveria estar dormindo, mas meu sono me abandonou. Deixou-me aqui, entregue a pensamentos bobos, ideias vãs e na companhia de uma gata, com o “motorzinho” ligado, tamanho é o barulho que faz. Você deve estar se perguntando: Esse cara vai ganhar o quê, escrevendo isso? O que eu posso responder é: Sonhos. Não estou dormindo, mas estou sonhando acordado. E, para ver o significado depois, estou escrevendo.

Se for contar o monte de coisas que passou pela minha mente, enquanto eu estava deitado, daria para escrever umas dez crônicas como esta. Resultado: Perdi tudo porque não escrevi. Agora que me sentei aqui, com o intuito de aproveitar alguma coisa do que eu estava pensando, vem outras ideias “atropelando”. É assim mesmo! É igual a uma enxurrada: Vem lixo de todo tipo. É garrafa pet boiando, é lata tilintando, bonecas nadando, sacos enchendo e esvaziando... Se você nunca perdeu seu tempo observando estas besteiras, vai pensar que estou inventando. Mas as ideias são assim mesmo. E se você não prender elas no papel, elas vão embora com a madrugada ou com qualquer hora. Uma ideia é assim: Ela vem e, PLIM! É como uma lâmpada que acendeu. Não é à toa que colocaram uma lâmpada acesa, simbolizando que alguém teve uma ideia. E por falar em luz, vou apagar a minha agora, para economizar energia. Estou com os rascunhos (na mente) das crônicas que me incomodaram tanto. De manhã vou tentar prendê-las definitivamente. Bem, talvez agora eu consiga dormir... Vou tentar.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas :  Garimpo literário
Garimpo literário
Está difícil extrair o ouro das palavras.
Está difícil garimpar...
É preciso quebrar blocos de ideias.
É preciso imaginar.

Demarcar o veio
em que se vai trabalhar,
e começar a cavar letras
até encontrar o filão da ideia.

Mas muita atenção,
pois o ouro está misturado
aos cascalhos...
É ouro em pó.
Tem que ser muito bem trabalhado.

Imagine o monte de letras
que alguém tem que cavar
para encontrar as palavras,
extrair o ouro e transformá-lo
em texto.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas :  Artesão de ideias
Artesão de ideias
Não sou poeta de gabinete...
Vivo pongado no dia a dia,
recolhendo os fatos.

Como os garis recolhem o lixo,
eu fico recolhendo
os entulhos das ideias,
para fazer reciclagem.

Ideia pouca é bobagem,
nas mãos de um artesão
popular...

São pedacinhos de letras,
que se tornam anéis;
são contas não pagas,
que se tornam gargantilhas...

São tantas ideias simples,
desprezadas
pela sociedade burguesa...

E o artesão vai recolhendo
uma por uma...
No final do dia,
o poema está na mesa.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas :  Poluidor de ideias
Sou só um poeta às avessas
descontrolando-me
no tempero das letras,
pondo mais sal
ou mais pimenta.

Sou mais um perdido
que a poesia sustenta,
e vive arrotando
que é poeta.

Sou mais um trabalhador
de sonhos,um idealizador
de nadas,
uma chaminé de palavras.

Sou só um poluidor
dos olhos e das mentes
para quem não gosta
de ler, nem de pensar.

A.J. Cardiais
Poeta

Poemas :  Tudo Em Paz
Tudo Em Paz
Chego em casa com a sensação
do dever cumprido.
Materialmente, tudo em paz...
Toda grana recebida
já foi desfolhada...
E o que restou? Nada.

A minha distração agora
será a poesia.
Entrego-me poeticamente
a abusar das palavras
para esboçar idéias.

A J Cardiais
01.12.1990


imagem: google
Poeta

Frases y pensamientos :  Valores da vida
Valores da vida
Nem sempre nós conseguimos
ter alguma ideia brilhante.
Mas nem tudo que necessitamos
tem que ser de diamante.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas :  Alimento cultural
Alimento cultural
Fique no seu mundão,
cheio de poluição,
que fico no meu mundinho,
repleto de amor e carinho.

Você cria coisas,
para se escravizar.
Eu crio ideias
para me libertar.

Deixo livre a poesia,
e o meu ser...
O que me importa
é o saber, com prazer.

Não procuro saber de coisas,
só para "mostrar conhecimento".
Procuro saber de coisas,
que me sirvam de alimento.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Poemas :  Tempo destruidor
Disputo com as horas
uma vaga no tempo.
Um segundo é ouro,
neste nosso tão desperdiçado
tempo.

Agora, um pouco tarde,
quando nunca é tarde
para nada.
Descobrir o Brasil
ainda é válido.

Corro, literalmente escrevendo,
para que as ideias(?) se fixem.
E luto ainda mais com o tempo,
porque ele só cuida
de apagá-las.

A.J. Cardiais
Poeta