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É no nosso ocaso Que Florescem fantasias E me desafias, De gozo extravaso Quando me seduzes Com as milhentas luzes Que me confias Nos teu olhos românticos E me contagias Com desvios tântricos E o teu corpo nu, deserto, De espírito entreaberto Com prazer arrebato Porque me apressou A sede que me torturou E agora a mato Com um esforço suarento Em que me deslizo Num arrepio num riso, De atrevimento, Do carnal desejo Com um derradeiro pestanejo Que tento pelos teus cabelos Que me acercam belos Como sombras ao vento. Ainda me queres Eu pego em fogo Entro no teu jogo Se assim preferes Mas não te toco Evito, te provoco Quase te roço, Abraça a energia Que te assedia Enquanto te adoço E o fogo amenizo, No momento preciso Em que um suspiro segreda A mútua entrega Que nos aconchega Em dunas de seda.
tavico
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Poeta
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Juntei, com um desejo audaz, Um pouco de azul do infinito Ao imenso branco da paz Em que acredito, E ao azul claro Que compreendo Juntaria o verde esperança, Que ainda é do meu amparo Desde o tempo de criança, Mas, não te vendo, Logo hesitei , Porque o marinho raro Seria apenas do teu olhar E não o todo que sonhei Para me entregar, E num derradeiro preparo Ao tal azul claro Dou uma gota de mim Em vermelho de vida Sentindo que assim, Compreendida, Estonteante virás Para o meu amor Na a tua cor Lilás .
tavico
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Poeta
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Folhas de Outono caindo Nasce o Inverno, então A Primavera vai florindo Morrem os campos no Verão.
Cá do alto do castelo A minha vista se dispôs Em redor deste Estremoz Vendo tudo tão belo E pela escrita revelo Aquilo que vou sentindo Com os meus olhos sorrindo Por qualquer fase do ano Vendo ao sol alentejano Folhas de Outono caindo.
Folhas tais as que escrevo Que me não as leve o vento Ou se vai o meu alento E tudo perde o relevo. Tal sentimento que levo É o das folhas que vão Mas já paradas no chão Jazem molhadas à espera Porque o Outono já era Nasce o Inverno então.
Então dono da esperança Deste povo ansioso Que te quer longo e chuvoso Ansiando pela bonança Um desejo de mudança Que se quer evoluindo A Deus se vai pedindo E às quatro fases da lua Porque a vida continua A Primavera vai florindo.
Quanta vida numa flor Grande dom da natureza O nascimento é uma beleza Dar a vida é puro amor. Mas não há vida sem dor Nem há bela sem senão Não está na nossa mão Nem somos donos da sorte E como não há vida sem morte Morrem os campos no Verão.
tavico
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Poeta
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O vento sopra e alterna Levantando aquela saia Até ao cimo da perna Ai, que o queixo não me caia .
E a saia em corpo sereno Com a mão foi-se ajeitando Por um segundo pequeno A senhora viu-me olhando
Ó senhora com o respeito O que eu lhe vi foi sem querer Não fique assim sem jeito O que é bom é para se ver .
Num gesto meio apressado A senhora já bem composta Deixou-me embasbacado Com uma frase sem resposta .
Disse do instinto de macho Que me guiou no olhar, É o tal que me põe em baixo Se não tenho onde me agarrar .
E eu gravei este momento Sem lá perder o controle Há mais saias ao vento E pernas espreitando o sol .
tavico
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Poeta
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Á margem da sociedade Oiço uma caixa de sonhos Tocando para a saudade De outros tempos, risonhos
Por força do destino Pousado em ombro idoso O teu velho violino Solta um som harmonioso
Solta um som Para tão duros corações Como a calçada que o rodeia Porque a vida é de opções Com que cada um se enleia
Solta um som Por entre uma cidade Que se cruza em corrida Sem dó nem piedade Louca e desprendida .
E assim se desune A nossa raça Que consegue e passa Imune Sim imune A essas notas que entoam Como musica sofrida De solidão, de tristeza E voam… Em abandono de vida.
tavico
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Poeta
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A musica das palavras Ouvida no amor com que me falavas Entrou em mim para não mais sair Ficou em mim para poder sorrir Enquanto abalavas
E a memória de quando tu estavas Tão perto de mim e não me faltavas Vive na saudade de um dia te ouvir Cantando saudosa por me sentir Como quando voltavas.
Enquanto ainda me faltas Invento os teus beijos em pautas Oiço a tua ausência em melodia E em ti me refresco, ó fantasia Da inspiração que me exaltas.
Vêm letras que dançam coloridas Em notas soltas tão divertidas Os meus pés levam os teus passos E meus gestos guiam os teus braços Num enleio de duas vidas.
Ainda te vejo, imagino Desejo-te, ainda não me domino Ao teu coração, o meu disponho Amor de ilusão, que és do meu sonho Um suspiro genuíno.
Como um gemido de prazer comum De nossos corpos feitos num Como um invasor do imaginário deste coração tão solitário Amando sem amor algum.
tavico
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Poeta
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Não me ames, Por um louco Não te enganes, Não apostes num fracasso. Não consegues, Tampouco Não te entregues, Não invadas o meu espaço.
Não te despeças, Por agora Não me peças, O amor que não te dou. Eu me perdi, Em má hora Não te vi, E minha alma desertou.
No teu rosto, Já impedes O tal gosto, Tão salgado da tristeza. Com um gesto, Te despedes E todo o resto Se reflecte na incerteza.
Digo basta, Num aperto Que me afasta, Inquieto de ansiedade. Mas o tempo, Em desacerto Com o desalento Atrasa-me a felicidade.
Lá vou indo eu , assim Sem paradeiro Pois para gostar de alguém, Para acreditar, também, Preciso de gostar de mim Primeiro.
tavico
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Poeta
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Eu sou a esperança
No outro lado do mundo
Onde a fome avança
E mata uma criança
Em cada segundo
Eu sou o choro que se perdeu
Por não ter nada a perder
Sou a alegria que morreu
Quando a miséria cresceu
Como se fosse errado nascer
Eu sou a evolução
Que se prendeu
Por terra abastada
Eu sou... não,
Eu sou o nada
Que não sabe nada,
Apenas o meu nome,
Que não sente nada,
Apenas fome.
Sonhos , não tenho
Nem um só desejo
Sou o que obtenho
Naquilo que vejo
Eu sou a mudança
Num processo natural
Mas a fome avança
E eu sou criança
Não sou animal.
Eu sou o futuro
No outro lado da certeza
Onde é mais escuro
E onde auguro
Conhecer a tristeza
Sim, conhece-la
Porque não a sinto
Outra coisa me apela,
Mais do tê-la,
Neste olhar faminto.
Eu nunca a vi
E serei triste um dia
Quando souber que senti
E que o sorriso abri
Por uma pequena alegria.
É meu o deserto
Onde ninguém vai
Estou em céu aberto
Com o inferno perto
Onde a morte cai
Não me ostentem
A vossa vergonha,
A que não sinto
E a que não sentem
Os que mentem
A quem sonha
Levem-me
Salvem-me
Alimentem-me
Mostrem-me tudo
O que para lá existe
Mas sobretudo
Dêem-me alegria
Para saber estar triste.
tavico
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Poeta
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Fui á fonte dos amores
Na aldeia de S. Luis
Um jardim de belas flores
Mas nem uma delas me quis.
Diz o povo lá da terra
Com orgulho no saber
O amor desce da serra
Para na fonte se beber.
Eu bebi água da fonte
A tradição assim me pede
Veio uma flor lá do monte
Ainda fiquei com mais sede.
Vem passando outra donzela
E, educado me levanto
Mas aos lindos olhos dela
Não chegou o meu encanto.
Entre as damas desta gente
Não há flores abandonadas
Há histórias de antigamente
Nesta fonte bem guardadas.
Um pouco triste eu fiquei
Mas daqui não levo mágoa
Meu coração eu enganei
Quando da fonte bebi água.
Por amor já ninguém morre
E quem espera sempre alcança
A água da fonte ainda corre
Quem beber não perde a esperança.
O_tavico
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Poeta
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Olá! Estou aqui Na rua dos desgraçados Que abre ao público quando a noite cai Procurem-me nos perdidos e achados Estou lá de passagem Como quem lá vai Estou mesmo à saída Com esperança na bagagem Como quem nasce para a vida. O_tavico
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Poeta
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