Poemas :  Dunas de seda

É no nosso ocaso
Que Florescem fantasias
E me desafias,
De gozo extravaso
Quando me seduzes
Com as milhentas luzes
Que me confias
Nos teu olhos românticos
E me contagias
Com desvios tântricos
E o teu corpo nu, deserto,
De espírito entreaberto
Com prazer arrebato
Porque me apressou
A sede que me torturou
E agora a mato
Com um esforço suarento
Em que me deslizo
Num arrepio num riso,
De atrevimento,
Do carnal desejo
Com um derradeiro pestanejo
Que tento
pelos teus cabelos
Que me acercam belos
Como sombras ao vento.
Ainda me queres
Eu pego em fogo
Entro no teu jogo
Se assim preferes
Mas não te toco
Evito, te provoco
Quase te roço,
Abraça a energia
Que te assedia
Enquanto te adoço
E o fogo amenizo,
No momento preciso
Em que um suspiro segreda
A mútua entrega
Que nos aconchega
Em dunas de seda.

tavico
Poeta

Poemas :  L i l á s
Juntei, com um desejo audaz,
Um pouco de azul do infinito
Ao imenso branco da paz
Em que acredito,
E ao azul claro
Que compreendo
Juntaria o verde esperança,
Que ainda é do meu amparo
Desde o tempo de criança,
Mas, não te vendo,
Logo hesitei ,
Porque o marinho raro
Seria apenas do teu olhar
E não o todo que sonhei
Para me entregar,
E num derradeiro preparo
Ao tal azul claro
Dou uma gota de mim
Em vermelho de vida
Sentindo que assim,
Compreendida,
Estonteante virás
Para o meu amor
Na a tua cor
Lilás .

tavico
Poeta

Poemas :  folhas de outono
Folhas de Outono caindo
Nasce o Inverno, então
A Primavera vai florindo
Morrem os campos no Verão.

Cá do alto do castelo
A minha vista se dispôs
Em redor deste Estremoz
Vendo tudo tão belo
E pela escrita revelo
Aquilo que vou sentindo
Com os meus olhos sorrindo
Por qualquer fase do ano
Vendo ao sol alentejano
Folhas de Outono caindo.

Folhas tais as que escrevo
Que me não as leve o vento
Ou se vai o meu alento
E tudo perde o relevo.
Tal sentimento que levo
É o das folhas que vão
Mas já paradas no chão
Jazem molhadas à espera
Porque o Outono já era
Nasce o Inverno então.

Então dono da esperança
Deste povo ansioso
Que te quer longo e chuvoso
Ansiando pela bonança
Um desejo de mudança
Que se quer evoluindo
A Deus se vai pedindo
E às quatro fases da lua
Porque a vida continua
A Primavera vai florindo.

Quanta vida numa flor
Grande dom da natureza
O nascimento é uma beleza
Dar a vida é puro amor.
Mas não há vida sem dor
Nem há bela sem senão
Não está na nossa mão
Nem somos donos da sorte
E como não há vida sem morte
Morrem os campos no Verão.

tavico
Poeta

Poemas :  saias ao vento
O vento sopra e alterna
Levantando aquela saia
Até ao cimo da perna
Ai, que o queixo não me caia .

E a saia em corpo sereno
Com a mão foi-se ajeitando
Por um segundo pequeno
A senhora viu-me olhando

Ó senhora com o respeito
O que eu lhe vi foi sem querer
Não fique assim sem jeito
O que é bom é para se ver .

Num gesto meio apressado
A senhora já bem composta
Deixou-me embasbacado
Com uma frase sem resposta .

Disse do instinto de macho
Que me guiou no olhar,
É o tal que me põe em baixo
Se não tenho onde me agarrar .

E eu gravei este momento
Sem lá perder o controle
Há mais saias ao vento
E pernas espreitando o sol .

tavico
Poeta

Poemas :  abandono

Á margem da sociedade
Oiço uma caixa de sonhos
Tocando para a saudade
De outros tempos, risonhos

Por força do destino
Pousado em ombro idoso
O teu velho violino
Solta um som harmonioso

Solta um som
Para tão duros corações
Como a calçada que o rodeia
Porque a vida é de opções
Com que cada um se enleia

Solta um som
Por entre uma cidade
Que se cruza em corrida
Sem dó nem piedade
Louca e desprendida .

E assim se desune
A nossa raça
Que consegue e passa
Imune
Sim imune
A essas notas que entoam
Como musica sofrida
De solidão, de tristeza
E voam…
Em abandono de vida.

tavico
Poeta

Poemas :  a musica das palavras
A musica das palavras
Ouvida no amor com que me falavas
Entrou em mim para não mais sair
Ficou em mim para poder sorrir
Enquanto abalavas

E a memória de quando tu estavas
Tão perto de mim e não me faltavas
Vive na saudade de um dia te ouvir
Cantando saudosa por me sentir
Como quando voltavas.

Enquanto ainda me faltas
Invento os teus beijos em pautas
Oiço a tua ausência em melodia
E em ti me refresco, ó fantasia
Da inspiração que me exaltas.

Vêm letras que dançam coloridas
Em notas soltas tão divertidas
Os meus pés levam os teus passos
E meus gestos guiam os teus braços
Num enleio de duas vidas.

Ainda te vejo, imagino
Desejo-te, ainda não me domino
Ao teu coração, o meu disponho
Amor de ilusão, que és do meu sonho
Um suspiro genuíno.

Como um gemido de prazer comum
De nossos corpos feitos num
Como um invasor do imaginário
deste coração tão solitário
Amando sem amor algum.


tavico
Poeta

Poemas :  não me ames
Não me ames,
Por um louco
Não te enganes,
Não apostes num fracasso.
Não consegues,
Tampouco
Não te entregues,
Não invadas o meu espaço.

Não te despeças,
Por agora
Não me peças,
O amor que não te dou.
Eu me perdi,
Em má hora
Não te vi,
E minha alma desertou.

No teu rosto,
Já impedes
O tal gosto,
Tão salgado da tristeza.
Com um gesto,
Te despedes
E todo o resto
Se reflecte na incerteza.

Digo basta,
Num aperto
Que me afasta,
Inquieto de ansiedade.
Mas o tempo,
Em desacerto
Com o desalento
Atrasa-me a felicidade.

Lá vou indo eu , assim
Sem paradeiro
Pois para gostar de alguém,
Para acreditar, também,
Preciso de gostar de mim
Primeiro.


tavico
Poeta

Poemas de reflexíon :  apesar de tudo sou uma criança




Eu sou a esperança

No outro lado do mundo

Onde a fome avança

E mata uma criança

Em cada segundo



Eu sou o choro que se perdeu

Por não ter nada a perder

Sou a alegria que morreu

Quando a miséria cresceu

Como se fosse errado nascer



Eu sou a evolução

Que se prendeu

Por terra abastada

Eu sou... não,

Eu sou o nada

Que não sabe nada,

Apenas o meu nome,

Que não sente nada,

Apenas fome.



Sonhos , não tenho

Nem um só desejo

Sou o que obtenho

Naquilo que vejo



Eu sou a mudança

Num processo natural

Mas a fome avança

E eu sou criança

Não sou animal.



Eu sou o futuro

No outro lado da certeza

Onde é mais escuro

E onde auguro

Conhecer a tristeza



Sim, conhece-la

Porque não a sinto

Outra coisa me apela,

Mais do tê-la,

Neste olhar faminto.



Eu nunca a vi

E serei triste um dia

Quando souber que senti

E que o sorriso abri

Por uma pequena alegria.



É meu o deserto

Onde ninguém vai

Estou em céu aberto

Com o inferno perto

Onde a morte cai



Não me ostentem

A vossa vergonha,

A que não sinto

E a que não sentem

Os que mentem

A quem sonha



Levem-me

Salvem-me

Alimentem-me

Mostrem-me tudo

O que para lá existe

Mas sobretudo

Dêem-me alegria

Para saber estar triste.



tavico
Poeta

Poemas :  fonte dos amores


Fui á fonte dos amores

Na aldeia de S. Luis

Um jardim de belas flores

Mas nem uma delas me quis.



Diz o povo lá da terra

Com orgulho no saber

O amor desce da serra

Para na fonte se beber.



Eu bebi água da fonte

A tradição assim me pede

Veio uma flor lá do monte

Ainda fiquei com mais sede.



Vem passando outra donzela

E, educado me levanto

Mas aos lindos olhos dela

Não chegou o meu encanto.



Entre as damas desta gente

Não há flores abandonadas

Há histórias de antigamente

Nesta fonte bem guardadas.



Um pouco triste eu fiquei

Mas daqui não levo mágoa

Meu coração eu enganei

Quando da fonte bebi água.



Por amor já ninguém morre

E quem espera sempre alcança

A água da fonte ainda corre

Quem beber não perde a esperança.



O_tavico
Poeta

Poemas :  Olá
Olá! Estou aqui
Na rua dos desgraçados
Que abre ao público quando a noite cai
Procurem-me nos perdidos e achados
Estou lá de passagem
Como quem lá vai
Estou mesmo à saída
Com esperança na bagagem
Como quem nasce para a vida.

O_tavico
Poeta