Crónicas :  Escrever e coçar...
Escrever e coçar...
Tem uma peça de teatro cujo nome é: Trair e coçar é só começar. Bem que eu gostaria que isso acontecesse com a escrita. Assim ó: Escrever e coçar, é só começar. Se bem que tem pessoas que a “coisa” acontece assim mesmo: começam a escrever, terminam. Comigo não... Eu sofro influências de várias maneiras. Se alguma coisa, ou alguém, interromper meu raciocínio, eu tenho que largar a escrita. E, às vezes, não adianta tentar recomeçar depois. Se eu tiver escrevendo alguma coisa com o rádio ligado, e tocar alguma música que eu gosto, quase sempre entra alguma coisa da música no texto. Eu preciso chegar com o texto praticamente pronto (na cabeça) para sentar e digitar. Caso contrário, ficar esperando que as palavras cheguem ou que o vento me sopre alguma coisa, a influência "cai matando".

Este texto mesmo, já estava todo engatilhado para ser escrito... Mal eu me sentei para digitá-lo, meu filho entra no quarto me pedindo dinheiro. Pedir dinheiro a quem está duro, é dureza. E quando você diz que não tem, e a pessoa fica insistindo, é pior ainda. Como é que eu posso ter estrutura para escrever alguma coisa que preste? Ainda bem que eu não escrevo por obrigação, como os cronistas dos jornais. Já li vários deles colocando esta situação nas crônicas: a de ter que improvisar. Isso é bom porque se transforma em um exercício. Mas não é a mesma coisa que “largar a alma” na escrita.

Mario de Andrade dizia que a crônica para ele era uma válvula de escape. Era quando ele se distraia com a escrita, porque não tinha tantas preocupações com as normas, como nos outros tipos de textos.
É justamente por esta “liberdade” que eu gosto da crônica. Ela não nos cobra nada a não ser soltar a imaginação e escrever. Apesar das interrupções (não foi uma só), dos olhares vagos no tempo, das buscas à ideia principal, eu consegui escrever alguma coisa. Talvez até eu possa dizer agora que: "Escrever e coçar, é só começar".

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Crónicas :  Eu, um anti poeta?
Acho que eu sou um anti poeta ou não existe poeta nenhum em mim. É só um personagem, um “encosto”... sei lá. Não sei definir o que é “ser poeta”. Só acho que não é só "escrever poesias”. Deve ser muito mais do que isto. É uma filosofia de vida ou algo assim. Talvez eu esteja exigindo muito do poeta.
Quando eu tenho que participar de algum evento, que é preciso dizer qual é a minha “função”, eu digo “poeta” com tanta timidez, que até parece que estou mentindo. E quando alguém me chama de poeta, eu adoro o título, mas fico como alguém que recebeu uma armadura bem maior de que o corpo franzino.

Para mim, ser poeta é uma responsabilidade muito grande. Quando penso em Castro Alves, Gregório de Matos, Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante... (isto, só na esfera da Bahia) me sinto pequenininho. Não me acho digno de ostentar o título. O que alivia o meu sentimento é ver tanta gente, só porque escreve alguns versos, se auto intitulando de poeta sem, ao menos, procurar conhecer a história dos grandes poetas; sem procurar saber alguma coisa sobre a própria poesia. Mesmo que não faça uso do que aprendeu. Eu, pelo menos, procurei e procuro saber alguma coisa sobre os poetas e sobre poesias. É esse pouco saber que me salva.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Mau conselho
Escrever algo e postar, é como montar um telhado de vidro... Você tem que estar preparado para receber de tudo: Tanto a luz do sol e da lua, como as pedradas e as tempestades. Afinal você estará expondo o seu pensamento, a sua vontade, a sua verdade, a sua mentira... sei lá, você estará se expondo. E se expor, até para quem gosta de chamar a atenção, é preciso ter "argumento". Principalmente se for escrevendo. Vai ter gente dizendo que você deveria ter feito assim e assado, que você deveria ter usado isso e aquilo... Vai ter gente criticando a sua linguagem, vai ter gente apontando as suas falhas... Mas também tem o seu lado bom: Além de você "descarregar" o seu sentimento, pode ter alguém elogiando a sua maneira de escrever, pode ter alguém elogiando a sua coragem de se aventurar a escrever sem ser nenhum acadêmico, pode ter alguém lhe agradecendo, por você ter mostrado um novo caminho... (tudo isso é suposição de sonhador).

Mas o mais importante é a adrenalina que ficará reinando, enquanto você espera o resultado da sua "ousadia". Eu falo "ousadia", porque quem já escreve cheio de pompa, cheio de conhecimento e senhor de si, só espera colher louros com o seu texto. Quando ele mostrar o "currículo", ninguém se atreverá a dizer que o texto dele é ruim. Se o cara for doutor, professor, pós isso, pós aquilo (só tem pós, nenhum pré), acadêmico, neurastênico etc, todo mundo só terá boas falas. Quem se atreverá em atacar o doutor sabe tudo? Os outros doutores serão os primeiros a acobertarem qualquer "falha". Estou fugindo do meu objetivo, voltemos:

Lembre-se que você estará expondo a sua maneira de pensar, de ver e sentir a vida e as coisas. Então não espere que todos que lerem o seu texto, vá pensar como você. Explique o que precisar ser explicado, aceite o que precisar ser aceito, mas não compre briga. Ninguém chuta cachorro morto. Então, se chutarem você, é porque você está vivo. Tente ficar mais vivo ainda. Procure escrever o mais correto que puder, para não começar uma "escola" de escrever errado. (Já basta a internet) No mais, é acreditar no que você faz, e tocar em frente. Se não fosse com a ousadia, Oswald de Andrade não teria modificado a forma de escrever poesia.

A.J. Cardiais
Poeta