Textos :  Luzes no Campo(Sketch XXI)
Luzes no Campo(Sketch XXI)
[size=x-large]Luzes no Campo







A cena se passa no Peru, em 1965.



Cena Única



Uma casa no campo. Vemos uma porta que dá para a varanda, e um cõmodo médio onde um homem está ouvindo rádio. Perto dele há um rapaz de 14 anos.



Alessandro- Veja, Alonso. O Brasil realmente não volta mais à democracia. Já escolheram o presidente, Médici. Realmente nossos amigos terão que lutar para acabar com esse fascismo.


Alonso- Pobres brasileiros, mas isso está se tornando moda aqui no continente. Muitos ditadores, mais leis, e pouca liberdade.


Alessandro- Isso é verdade, mas nosso continente tem fama e história de lutar pela liberdade. Vai haver muita luta.


Alonso- E muito derramamento de sangue, com certeza.


Alessandro- E pensar que u ia morar lá o ano passado.


Alonso- Eu estive lá em 1962. Uma terra incrível.


Alessandro- Sem dúvidas, mas que agora passará por maus bocados. Minha mãe morou lá por quinze anos antes de me ter.


Alonso- Na época de Getúlio, então.


Alessandro- Não, acho que foi em 1920... Foi numa época em que houve uma revolução em SP.


Alonso- Ah, em 1924!


Alessandro( contente por fazê-lo lembrar)- Sim, isto mesmo. Ela me contava histórias sempre daquea época.


Alonso- Devem ser bem interessantes e realmente valer a pena parar para ouvir.


Alessandro- Sim, é por isso que minha década favorita é a década de 1920.


Alonso- Os anos loucos foram incríveis, mas sabemos como acabou. E sabemos o que trouxe para o mundo após.


Alessandro- Nem gosto de me lembrar o que veio depois. Mas me diga, está gostando de ficar aqui?


Alonso- Um pouco. Não estou acostumado à vida no campo.


Alessandro- Bom, ficará aqui quase quinze dias, já se passou sete, mais oito dias apenas...


Alonso- Não sei como você se acostuma a morar aqui sozinho. Não tem medo?


Alessandro- Não, para quem viveu o que eu vivi, morar sozinho não é nada.


Alonso- O bom é que não há muitos vizinhos por aqui.



Alessandro- Sim, é incrível não ter uma casa colada a outra como é na cidade.


Alonso- É uma das coisas mais estranhas que se vê nas cidades, execto as dos Estados Unidos, e na verdade nem são todas.


Alessandro Estupidez maior. As casas ficam parecendo um minhocão ou então massinha de argila.


Alonso- Fora que são pequenas... Mas claro, isso vai por causa das construtoras que não querem construir casas maiores.


Alessandro- Sim, mas...



Nesse momento vemos luzes fortes invadir a cena. Alessandro fica assustado. Ele pega a espingarda.


Alessandro- Fique aqui, Alonso. Já é a terceira vez que vejo essas luzes esse mês.


Alessandro sai para a varanda e não o vemos. Depois de dois minutos ouvimos um tiro de espingarda, um grito de Alessandro e mais nada. Alonso não consegue se aguentar e vai até a varanda. Ouvimos ele cair no chão e desmaiar. O pano desce.


FIM[
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Poeta

Textos :  Apartamento Parisiense(Sketch XX)
Apartamento Parisiense(Sketch XX)
Apartamento Parisiense






A cena se passa em Paris, em 1942.



Cena Única



Vemos um apartamento com dois níveis. Um deles está ocupado por dois homens. Um chamado Yosef e outro Aarão. Eles são judeus e estão se escondendo dos nazistas.



Yosef- Droga! Mais um dia nesse apartamento em Paris. Tudo bem que ele é bonito, elegante, mas estamos presos aqui há quase seis meses.


Aarão- Não reclama, Yosef. Você gostaria de estar em uma prisão da Gestapo?


Yosef( se benze)- Deus me livre! Santa Virgem!


Aarão- Então não reclame. Estamos até bem instalados aqui e pessoas de confiança estão nos ajudando.


Yosef- Sim, até que você está certo. E tem poucas pessoas aqui neste condomínio. Então para descobrirem...


Aarão- Viu? Nem tudo está perdido. E nossos passaportes ficam prontos, e iremos daqui para Portugal e de lá para o Brasil. Nossa vida realmente será outra.


Yosef- Ir para o Brasil é arriscado, não acha?


Aarão- Não. Por que fala isso?


Yosef- Pelo que sei, o Brasil ainda é aliado da Alemanha.


Aarão- Não mais. Quando você estava dormindo ontem, soube pela senhora que vem aqui que o Brasil já declarou guerra à Alemanha, Itália e Japão.


Yosef- Graças a Deus! O que os brasileiros pensavam? Que a Alemanha não iria se voltar contra eles?


Aarão- Sim, com certeza. Mas agora eles realmente estão do lado dos Aliados.


Yosef- E esta guerra na França que acabou... E pelo jeito...


Aarao( interrompendo)- Ainda existe a Resistência, os maquis... Nunca irão se render.


Yosef( torce a boca com desagrado)- Detesto quando você me interrompe! Nunca sei o que falar depois, nada vem na minha mente, e aí tenho que começar outra coisa.


Aarão- Desculpe, achei que precisava te falar isso.


Yosef( levanta-se e dá alguns passos pelo cômodo)- Acha que os franceses estão colaborando bastante com os malditos nazistas?


Aarão- Creio que sim.


Yosef- Então as chances de nos encontrarem é grande.


Aarão- Sim, mas não vamos desanimar. Temos dois lugares para nos esconder aqui, e um deles é bem ocultado.


Yosef- Até um alemão inteligente realmente encontrar o truque.


Aarão( com ar de superioridade e caçoando)- Não há muitos deles.


Os dois começam a rir bastante.



Yosef- Tenho dormido tão bem.


Aarão- Eu também. E pode-se dizer que meu organismo também está muito bom.


Yosef- Incrível, não acha? Estamos aqui em um lugar sem poder sair e nossos organismos não estão cobrando luz solar, nem nada.


Aarão- Nossa consciência está tranquila. Então os organismos apenas seguem essa paz.


Yosef- Sim, cada vez mais percebo que a consciência realmente é quem dita as normas para o corpo.


Aarão- E não poderia ser o contrário, se assim o fosse, a vida seria pior do que já é.


Yosef- Mas...


Ouvimos barulhos de pessoas subindo rapidamente as escadas.


Yosef- Teremos que nos esconder!


Os dois rapidamente vão até o segundo nível e se escondem. A porta é arrebentada por um chute e vemos dois soldados entrando acompanhados de um tenente da Gestapo.


Soldado I- Ué. Onde estão? Recebemos uma denúncia agora que havia duas pessoas conversando neste apartamento.


Soldado II- Muito estranho. ( Olhando em volta).


Tenente- Alarme falso. Não há ninguém aqui e nenhum vestígio de pessoas neste lugar.


Soldado II- Devemos vasculhar.


Tenente- Aqui é pequeno, ninguém realmente está aqui.



Entra outro soldado alvoroçado.



Soldado III- Tenente Rasmussen, aconteceu algo extraordinário. Um muro explodiu e não há ninguém perto do muro. E ouvimos vozes, e quando fomos ver quem era, não havia ninguém.


Tenente- Scheiss! Vamos, não há realmente ninguém aqui.



Eles saem fechando a porta. Ouvimos barulhos de risadinhas baixas. O pano desce.




FIM
Poeta

Textos :  A Boneca do Horror(Sketch XIX)
A Boneca do Horror(Sketch XIX)
A Boneca do Horror





A cena se passa em Quebec, no Canadá, em 1956.



Cena Única



Um porão que serve como quarto e depósito de algumas coisas. O porão tem ótimo estado e vendo como ele é, não se pode dizer nenhum pouco que é um porão. Em uma estante vemos bonecas russas, e uma delas é a mais chamativa. Ela tem faces rosadas, veste um vestido de camponesa holandesa e naturalmente tem cabelos loiros. Vemos uma menina de uns 13 anos escovar os cabelos de uma garota de seis anos.



Karen( escovando os cabelos de Donna)- Ah, Donna, esse teu cabelo é tão maravilhoso. Eu queria ter um como o seu.


Donna- Seu cabelo também é lindo, Karen. Não precisa ficar com inveja do meu.


Karen- Não estou com inveja. Eu sempre admirei seu tom de cabelo loiro. O meu é muito desbotado.


Donna- Não é não, ele é lindo, mais lindo até do que de mamãe.


Karen- Mamãe tem um cabelo lindo mesmo. Mas também toda a família dela tem cabelo bonito.

Donna- E quanto ao papai?

Karen- Papai tem um cabelo passável, minha querida. Nem bonito, nem feio.


Donna- Ah, eu não concordo com isso.


Karen- Você sempre acha que todos os cabelos são bonitos, minha linda irmã.


Donna- Porque são bonitos. Eu vejo a beleza em tudo na Vida. Você devia fazer o mesmo.


Karen- Quem dera. Eu sou muito exigente e seletiva. Eu realmente não consigo ser menos do que isso.


Donna- Pode parar de pentear meu cabelo, Ka.



Ka para de pentear o cabelo de Donna.


Karen- O que vamos fazer agora?


Donna- Vamos pular na cama?


Karen( fica um pouco em dúvida, sorri, confirma)- Mas só um pouco. Eu tenho medo que você caia da cama.


Donna e Karen sobem em cima da cama e começam a pular bastante nela e fazer barulho. Elas brincam por oito minutos.


Karen( ainda pulando na cama)- Estou ficando cansada. Vou parar.( Ela sai da cama).


Donna- Você cansa muito facilmente.


Karen- Sim, deveras. Você vai fazer o que?


Donna- Vou dormir meu sono da tarde.


Karen( à parte)- Depois eu que me canso facilmente. Tudo bem, minha linda, você vai dormir e te chamo às seis da tarde.


Dona- Combinado( Sorri, deita na cama e ela mesma se embrulha).


Karen( dá um beijo na testa da irmã)- Até mais tarde, cabelos loiros que tanto amo.


Donna adormece rapidamente. Karen sai. Nisso vemos a boneca mencionada sair da prateleira, dar risadinhas.


Voz da boneca- Logo brincaremos bastante, Donna. Você me despertou a pular na cama. Logo eu mostrarei o que faço. Durma, criança.


O pano desce
.




FIM
Poeta

Textos :  A Cadeira Esvoaçante(Sketch XVIII)
A Cadeira Esvoaçante(Sketch XVIII)
A Cadeira Esvoaçante




A cena se passa na Argentina, em 1845.



Cena Única



Um quarto com uma decoração um pouco efeminada. No quarto vemos um rapaz de aproximadamente 27 anos. Ele se chama Alejandro. Ele está escrevendo em seu diário. Ele logo fica entediado, fecha o diário e dá alguns passos até a janela. Ele fica de costas por uns dois minutos cantarolando baixinho. Logo vemos uma cadeira em seu quarto começar a levitar. Ele dá alguns passos para a direita no quarto e a cadeira cai no chão sem fazer barulho. Ele então pega em uma gaveta um álbum de fotografias, abre-o e começa a vê-lo. Logo a cadeira novamente começa a levitar e ele sem olhar para cima. Ele fecha o álbum e a cadeira volta a ficar no chão. Ele volta para onde estava. Ele então deita na cama, fecha os olhos por cinco minutos e a cadeira volta a levitar. Quando ele abre os olhos, a cadeira já está no chão. Ele suspira, levanta-se da cama e vai até uma escrivaninha onde há uma maçã. Ele pega a maçã, olha para ela, e desiste de comê-la. Ele então vai até a mesma janela e fica novamente de costas e a cadeira novamente faz o mesmo que antes. Depois que ele se vira, a cadeira está no chão. Alejandro então pega uma gaita e começa a tocá-la, enquanto ele toca desapercebido a cadeira começa novamente a levitar. Ele toca a gaita por uns dez minutos, e então ele pára de tocar a gaita e então a cadeira faz o mesmo que antes. Mais duas vezes Alejandro vai pela janela, e escusado será dizer que a cadeira foi novamente para o alto. Alejandro então decide sair, mas ouve uma voz de sua casa.


Voz- Alejandro! Preciso de sua ajuda, por favor venha me ajudar.


Alejandro- Cáspite! Minha mãe novamente com problemas de leitura. Uma hora agora para ajudá-la em seu francês.



Ele veste um casaco e sai do quarto. Vemos a cadeira novamente levitar. Ouvimos uma voz.



Voz- Distraído... Mal sabe ele que ele fez a cadeira levitar umas sete vezes e nem percebeu.




O pano desce.




FIM
Poeta

Textos :  Noite de Baile(Sketch XVII)
Noite de Baile(Sketch XVII)


Noite de Baile






A cena se passa na Holanda, em 1919.


Cena Única


Uma sala bem mobiliada com duas portas laterais e uma na frente. A porta da frente leva a um quarto. Em cena há dois homens. Um chamado Florian e outro Frederik. Eles estão impaciente e olham para os próprios relógios.

Florian- Estamos aqui há quase meia hora. Minha irmã, mãe e sua esposa simplesmente não conseguem se decidir o que vestir para o baile.


Frederik- Não preciso nem dizer que isto é a mania mais feminina de todas, não?


Florian- Mesmo assim, deste jeito chegaremos atrasados ao baile.


Frederik- Não vejo problema nisso. Seria até bom para nós.


Florian- Para horários sou como os ingleses, detesto atrasos. Mas creio que daqui a cinco minutos elas saem do quarto.


Frederik- Ou não. Mas me diga, Florian, você está mesmo empolgado para ir a este baile?


Florian- Nenhum pouco, meu caro. Estou indo por causa de minhas irmãs e mãe. Mas gostaria de ficar em casa esta noite.


Frederik- E tem mais um baile semana que vem que teremos que ir.


Florian- Farei de tudo para escapar desse. Nem que eu comece a jogar e fumar com os amigos.


Frederik- Já faço isso, mas se eu não ir, sabe o que acontece, não?


Florian- Você poderia realmente escapulir por algumas horas, mas acho que por causa dessa ansiedade delas será muito difícil.


Frederik- Há dias estou ouvindo de minha mulher sobre este baile. Sabe como detesto ouvir a mesma coisa mais de uma vez, não sabe?


Florian- Oh, sei, e nisso sou igual a ti. Mas elas estão empolgadas e elas idealizam os bailes. Você deveria saber disso.


Frederik- Sei, e já fui a dezenas de bailes sabendo disso, e parece que não consigo pensar em nada para me livrar deles.


Florian- Ainda bem que são apenas os bailes. Um amigo meu tem uma mãe que tem... Bom, digamos que ela tem o que eu chamo de doença social. Ele tem que acompanhá-la a casamentos, velórios, batismos, piqueniques, óperas, etc. Ele muitas vezes está até mais contrariado do que estamos aqui.


Frederik(decepcionado)- Pobre coitado, mas eu ainda hei de arranjar um jeito de me livrar de ir a lugares que não quero com minha esposa.


Florian- Se me permite ser sincero, poderá arranjar conflitos com tua mulher. Com minha mãe estou acostumado a ter certas rusgas, mas eu te aconselho a ir a esses lugares, ou então, torcer para que sua mulher se torne mais introspectiva e caseira.


Frederik- Impossível, meu caro Florian. Minha mulher também tem a tal da doença social. Ela não consegue passar uma semana sem ir a algum lugar.


Florian- Isso prova que ela mesmo com os conflitos da vida consegue superá-los na companhia das pessoas.


Frederik- Sim, é o que parece. Mas me diga, você realmente sai sempre com sua mãe e irmã? Porque parece que elas são vistas algumas vezes desacompanhadas.


Florian- Consigo fugir algumas vezes, mas é raro agora, principalmente porque minha mãe agora está mais empolgada com todo tipo de eventos.


Frederik- Imagino. Minha esposa também está assim.


Florian- Primavera também, você sabe como elas ficam alvoroçadas nesta estação.


Frederik- Sim, eu sei, elas...


Neste momento a porta se abre e três belas mulheres saem.


Saskia- E então meu caro filho Florian, como estou? (Ela dá duas voltas exibindo o vestido).


Florian- Belíssima mamãe. Nunca a vi tão bela como hoje.


Veerle- E quanto a mim, meu irmão? (Faz o mesmo que a mãe).


Florian- Tão bela quanto as flores de nosso país na mais dileta primavera.


Veerle sorri encantada.


Wilhelmina- Veja querido Frederik como estou bela também.


Frederik (sorri encantado) - Sim, minha linda. Nunca te vi tão bela. Estou muito orgulhoso de ti.


Saskia- Vamos logo, creio que estamos atrasadas. O carro já está pronto, Florian?


Florian- Sim, mamãe.


Veerle- Vamos, estou ansiosa por este baile. Creio que haverá boas surpresas.

Florian dá os dois braços. Sua mãe do lado direito segura o braço, e o mesmo faz sua irmã no esquerdo. Frederik acompanha sua mulher segurando-a pela cintura. Todos saem. Ouve-se um pequeno barulho de ventania pela casa, mas nada muito preocupante. O pano desce.




FIM
Poeta

Textos :  A Morte do Velho Jardineiro(Sketch XVI)
A Morte do Velho Jardineiro(Sketch XVI)


A Morte do Velho Jardineiro




A cena se passa na Inglaterra, em 1942.



Cena Única



Uma casa velha com uma escada que vai levar a um corredor um pouco longo, e que também leva a um quarto que está com a porta ligeiramente aberta. Nela vemos uma luz saindo. Nela há três pessoas. Uma é um rapaz de aproximadamente vinte e dois anos, de cabelos negros e olhos verdes. Outro é um senhor de aproximadamente sessenta anos, e outro é um homem de quase quarenta anos, alto, loiro e de olhos castanhos. Os três bebem vinho.



Victor- Anton, já te dissemos que realmente precisamos daquela relíquia. Sem ela realmente não podemos continuar nossos planos.


Anton- Mas conseguí-la nos campos da Sociedade realmente não será fácil. Precisaremos usar outra pessoa.


Victor- Não usaremos outra pessoa, você irá lá e pegará a relíquia.


Anton- Você sabe que tenho outros trabalhos a fazer dentro da nossa organização.


O homem mais velho fala numa voz calma, mas fria.


Theodor- Se não achares uma pessoa adequada, você mesmo roubará a relíquia, meu caro Anton. Você sabe que estou muito fraco e não posso fazer isso.

Victor- Eu não vejo como prosseguir nesse estilo. Temos que nos esconder sempre, e não há muitas casas abandonadas hoje em dia que podemos usar.


Anton- Mas ainda há milhares de oportunidades, e as pessoas não são muito curiosas nesse estado. Ou seja, podemos ficar em cada casa quase um mês, até.


Victor- Precisamos realmente dessa relíquia logo. Nossos amigos de outros planos não estão muito pacientes para esperar, e eles precisam vir para esse plano logo, vocês sabem, a guerra continua nos dois planos, e o que acontece aqui...


Anton- Influencia no outro plano. Já sabemos disso, Victor. Mas a relíquia está fortemente guardada dentro da Sociedade. Você sabe, há mais de quatro camadas que conhecemos que protegem aquela relíquia.


Theodor- Mas iremos com certeza conseguir. Não vamos desanimar agora. Já estamos há quase dois anos mudando de um lado para outro, o sucesso realmente será nosso.


Anton- Precisamos contatar os outros. Como faremos?


Theodor- Como sempre fizemos, Anton. Você anda se esquecendo demais dos velhos modos. Mas só vamos fazer isso daqui a uma semana. Por ora teremos que tomar cuidado com esse lugar.


Victor- Tem certeza que aqui não havia nenhuma pessoa?


Anton- Pelo que andei vendo, não, mas aqui é uma área onde as casas estão sempre fechadas. Os vizinhos nesta região são mais caseiros, então é impossível saber de tudo.


Victor- Então ficaremos aqui uns quinze dias, apenas.


Theodor- Ou menos. Já que não sabemos se realmente há alguém aqui que pode ouvir nossos planos.


Victor- Mas creio que podemos cuidar de algo agora mesmo.( Victor pega em um canto um frasco de veneno, uma taça e uma garrafa de vinho. Ele coloca veneno na taça junto ao vinho e coloca a taça em cima de uma mesinha).


Theodor- Então, como nós iremos...


Ouvimos de fora os passos de um homem. É o velho jardineiro que cuida da casa. Ele é um senhor de uns setenta anos, e vai se aproximando do corredor. Ele ouviu uma parte da conversa pois já estava na casa.


Victor- Temo que fiz bem em colocar vinho na taça. Um homem está lá fora. Terei que...


Theodor( autoritário)- Faça logo.


Victor sai do quarto com o copo de vinho com veneno nas mãos. Ele encontra o jardineiro perto dele.


Jardineiro- Ouvi grande parte de vossa conversa. Saiba que estou pronto para chamar a polícia por você estarem planejando roubar uma relíquia.


Victor( sorridente)- Que isso, meu senhor. Somos atores. Estamos apenas ensaiando uma peça.


Jardineiro- Não me venha com essa, eu sei muito bem que são bandidos e pretendo pará-los.


Victor- Não somos bandidos, veja, fizemos mal em invadir a casa, realmente, mas estamos sem dinheiro para nos acomodarmos. Estamos ensaiando e vamos embora. Prometemos nunca mais voltar.


Jardineiro- Então realmente não são bandidos?


Victor- Claro que não, senhor, e para provar. Vou te ofertar um belo copo de vinho. Que bandido faria isso?


Jardineiro- Está bem( Inocentemente estica a mão para pegar o copo de vinho, Victor o entrega com um olhar inocente. Ele bebe todo o vinho na taça, sorri, e dentro de dois ou três minutos começa a passar mal e se joga no chão e morre rapidamente).


Victor vai até o corpo, leva-o até o quarto.


Victor- Ainda bem que ele foi deixando as defesas logo de lado.


Theodor- Enterre-o no quintal. Ficarei aqui vigiando se vem mais alguém.


Victor- Sim, meu senhor.


Victor pega o corpo de jardineiro, sai do quarto e atravessa todo o palco com o corpo na mão e sai pela esquerda. Ouvimos corvos lá fora. Uma porta bate.


Theodor- E assim mais um acaba morrendo por se intrometer em negócios alheios.


Ele olha para Anton que sorri. O pano desce.



FIM



Poeta

Textos :  Jogos Estranhos(Sketch XV)
Jogos Estranhos(Sketch XV)
Jogos Estranhos





A cena se passa na Áustria, 1899.


Cena Única




Uma sala contendo muitos objetos, de quase todos os tipos, mas alguns arrumados, e outros desarrumados. Um homem chamado Gerwin Ziegler está em cena. Ele está diante de três manequins e tem nas mãos alguns morangos. Ele vai morder um, mas muda de ideia e joga nos manequins. Ele fica pouco satisfeito, suspira. Ele pega uma espingarda. Ele fica mexendo nela de cima a baixo e depois lança-a dando um pulo. A espingarda cai quase do outro lado da sala. Ele pega uns dois livros e coloca-os em cima de uma mesa em pé. Ele começa a tentar acertá-los com um copo de água, e coloca o copo de lado. Depois ele pega duas bolinhas de gude. Ele coloca as bolinhas no chão e começa a jogá-la perto de um manequim bonito. Depois ele pega dois copos de plástico, ele coloca um no outro e coloca na cabeça e começa a andar com eles tentando se equilibrar como se faz com um livro na cabeça. Ele joga os copos de lado, e senta-se numa poltrona e fica mexendo os pés para cima com certa velocidade e força. Ele se levanta e fica a rodopiar e falar aaaaaa e eeeeeeee umas quinze vezes. Depois ele se cansa e pega um álbum de fotos e fica folheando- o com força e joga-o de lado. Ele depois vai até um prato de biscoitos e começa a lambê-los, pára de lamber e coloca o prato debaixo de um livro. Ele suspira, dá três pulos grandes e duas cambalhotas. Ele então pega duas cartas de baralho e fica passando o dedo nelas, e depois ele grita com elas. Depois de dois minutos, ele se cansa. Ele então pega um colar e fica fazendo dele um ioiô, ele coloca o colar numa caixa de madeira e fica segurando a caixa, coloca no chão, coloca-a de volta e a mesma coisa umas sete vezes. Depois de tudo isso, ele simplesmente para de mexer nas coisas e volta a poltrona. Ele então fecha os olhos. Ouvimos uma voz em off:


Voz- Jogos estranhos! Jogos estranhos sendo jogados na casa 22. Vamos ver os jogos estranhos!


O homem se levanta rapidamente. Ele sai de cena.



Voz- Mostre-nos os jogos estranhos! Mostre-nos os jogos estranhos.



Um barulho de porta ouve-se bater. O pano desce.


FIM



Poeta

Textos :  Weltschmerz (Sketch XIV)
Weltschmerz (Sketch XIV)
Weltschmerz




A cena se passa na Inglaterra, 1932.


Cena Única


Um quarto em uma casa. Vemos um rapaz deitado na cama. Ele está totalmente abatido, depressivo. Ele se chama Richard Holling. Ao seu lado está a sua mãe, Stephanie Holling. Ela segura a mão dele com carinho.


Stephanie- Ri, você precisa levantar dessa cama. Faz três dias que você não levanta.


Richard(melancólico)- Não tenho nenhuma vontade, e afinal, você sabe o quanto estou decepcionado com tudo a minha volta.


Stephanie- Sim, eu sei, e já te avisei para você tentar controlar esse seu desânimo, meu querido.


Richard- Como posso controlar se é maior do que as minhas forças? Maior que as minhas emoções? Simplesmente eu não consigo entender como as pessoas raramente ficam tristes com o mundo que elas vivem e tem diante de si o tempo todo.


Stephanie- Fazemos o possível com o que temos, mas claro que muitas acabam realmente vivendo mais esse caos e essa desarmonia do mundo. Ou acabam absorvendo.


Richard- Sim, e é isso que me deixa cada vez mais desanimado, melancólico e sem ação. Eu simplesmente creio que eu deveria viver em um mundo melhor, onde eu realmente visse todos os meus sonhos, ideais e aspirações completamente realizados.


Stephanie- Você ainda viverá isso, meu querido, mas para isso precisamos visualizá-lo e fazer esse mundo a cada segundo.


Richard- Você sabe o quanto eu visualizo. Visualização não é problema para mim.


Stephanie- Não, meu querido, mas parece que viver sempre seus ideais fortemente e não vê-los realizados à sua volta, é.


Richard- Minha mãe, você sabe o quanto eu realmente gostaria de não ter tantos ideais elevados. Você sabe que eu gostaria de não ter que passar por isso, mas é extremamente forte, e eu não posso fingir até este ponto.


Stephanie- Mas pode realmente se levantar e continuar com seus ideais, e até mesmo colocá-los em prática passo a passo.


Richard- Como? Muitas vezes eu não consigo verbalizar o que realmente sinto, apesar que isso está mudando, e é muito bom.


Stephanie- Você precisa realmente ser mais forte.


Richard(glacial)- Eu gostaria de ficar sozinho.


Stephanie levanta-se sem olhar para ele e sai rapidamente e suspira.


Richard- Como essas pessoas são tolas e não compreendem nem o básico da emoção humana. Por que tentam ajudar se não conseguem compreender? Por que em tudo que eles tocam apenas sai seus preconceitos, ideias tolas e idiotas para fora? Eu não consigo compreender um mundo que realmente não consegue tornar a empatia como a primeira e talvez a única forma de realmente compreender o mundo. Por que...


Entra um menino de uns oito anos em cena. Ele se chama Christian. É o irmão de Richard.


Christian- Ri, mamãe me contou que você não sai um tempo. Por que não conversamos lá fora e brincamos um pouco?


Richard (suspira contrariado) - Não, Chris. Mas pode ficar um pouco aqui e conversamos.


Christian- Bom, é que... Eu não...


Richard(glacial)- Pode sair, Christian.


Christian olha para ele, balança a cabeça negativamente e sai batendo os pés.


Richard (levanta-se e dá alguns passos perto da cama) - Pestinha. Como se eu não soubesse que ele quer que eu o leve para os lugares que ele gosta de ir. Ah, eu não sei mais o que faço. Tem três dias que não para de entrar e sair gente daqui. Quatorze pessoas entraram aqui em três dias. Eu simplesmente vou me trancar totalmente.


Stephanie entra novamente em cena. Ela tem um ar grave.


Stephanie- Chris me disse que você o maltratou. O que aconteceu?


Richard- Ele veio aqui simplesmente para me pedir para sair com ele. Não gostei e o mandei embora.


Stephanie- Ele veio apenas para brincar com você. Você ê poderia ter sido mais educado com ele, Ri.


Richard- Não o suporto. Você sabe disso.


Stephanie (suspira longamente) - Depois conversamos. Vou te deixar por um momento. Você precisa realmente ficar sozinho. (Ela sai).

Richard (suspira, deixa-se deitar na cama, fica olhando para o teto) - Eu realmente vou escrever um pouco. Não estou mais aguentando. Mas vou um pouco para o terraço. Eu não aguento mais as pessoas entrando aqui. (Sai).


Chris(off)- Mamãe, não posso mesmo ver mais uma vez o Ri?


Stephanie(0ff) - Não, seu irmão está passando por uma Weltschmerz.


Chris(off)- O que é isso?


Stephanie(off)- Eu te explico mais tarde. Pode ir brincar agora.


O pano desce.
Fim.
Poeta

Textos :  O Testamento de Heiligenstadt (Sketch XIII)
O Testamento de Heiligenstadt (Sketch XIII)
O Testamento de Heiligenstadt






A cena se passa em Heiligenstadt, em 1802.



Cena Única


Vemos um homem de trinta anos. Ele está sentado atrás de uma escrivaninha. Em cima da escrivaninha há uma pistola carregada. Este homem é o famoso compositor alemão Ludwig van Beethoven(1770-1827).


Ludwig( escrevendo e sempre ditando o que escreve)-

Por vezes, quis colocar-me acima de tudo, mas fui então duramente repelido, ao renovar a triste experiência da minha surdez!

Como confessar esse defeito de um sentido que devia ser, em mim, mais perfeito que nos outros, de um sentido que, em tempos atrás, foi tão perfeito como poucos homens dedicados à mesma arte possuíam! Não me era contudo possível dizer aos homens: “Falai mais alto, gritai, pois eu estou surdo”. Perdoai-me se me vedes afastar-me de vós! Minha desgraça é duplamente penosa, pois além do mais faz com que eu seja mal julgado. Para mim, já não há encanto na reunião dos homens, nem nas palestras elevadas, nem nos desabafos íntimos. Só a mais estrita necessidade me arrasta à sociedade. Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava!

Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou! Pareceu-me impossível deixar o mundo antes de haver produzido tudo o que eu sentia me haver sido confiado, e assim prolonguei esta vida infeliz. Paciência é só o que aspiro até que as parcas inclementes cortem o fio de minha triste vida. Melhorarei, talvez, e talvez não! Mas terei coragem. Na minha idade, já obrigado a filosofar, não é fácil, e mais penoso ainda se torna para o artista. Meu Deus, sobre mim deita o Teu olhar! Ó homens! Se vos cair isto um dia debaixo dos olhos, vereis que me julgaste mal! O infeliz consola-se quando encontra uma desgraça igual à sua. Tudo fiz para merecer um lugar entre os artistas e entre os homens de bem.

Peço-vos, meus irmãos assim que eu fechar os olhos, se o professor Schmidt ainda for vivo, fazer-lhe em meu nome o pedido de descrever a minha moléstia e juntai a isto que aqui escrevo para que o mundo, depois de minha morte, se reconcilie comigo. Declaro-vos ambos herdeiros de minha pequena fortuna. Reparti-a honestamente e ajudai-vos um ao outro. O que contra mim fizestes, há muito, bem sabeis, já vos perdoei. A ti, Karl, agradeço as provas que me deste ultimamente. Meu desejo é que seja a tua vida menos dura que a minha. Recomendai a vossos filhos a virtude. Só ela poderá dar a felicidade, não o dinheiro, digo-vos por experiência própria. Só a virtude me levantou de minha miséria. Só a ela e à minha arte devo não ter terminado em suicídio os meus pobres dias. Adeus e conservai-me vossa amizade.



Beethoven vai continuar a escrever, mas ele se sente cansado. Ele larga a pena, pega o revólver e fica olhando uns três minutos para ele. Logo ele desiste, guarda a pistola em uma gaveta. Ouvimos barulhos de passos. Beethoven sai rapidamente de cena. Vemos seu irmão Karl entrar.



Karl- Beethoven? Beethoven? Já se esqueceu que íamos sair juntos hoje? (Suspira, vai até a mesa e olha por cima as coisas, ele não pega o papel, mas o vê de longe, mas fica pouco curioso em saber o que está escrito nele)- Tudo bem, saímos depois. Adeus, Beethoven!



Karl sai pela esquerda. Ouvimos a sonata Appassionata sendo tocada ao longe. O pano desce.



FIM
Poeta

Textos :  O Navegante Perdido(Sketch XII)
O Navegante Perdido(Sketch XII)
O Navegante Perdido







A cena se passa nas costas gregas, 1913.



Cena Única



O exterior de um barco com o leme. Vemos um homem chamado Grigori Panatkos junto ao leme. Ele está cansado e abalado.



Grigori- Cáspite! Três dias que deveria estar em Samos, mas peguei a rota ao sul que estava no mapa e que mostrava um atalho, e agora estou cá perdido, e este maldito rádio que não funciona! O que farei?


Ele sai de perto do leme e vai até a esquerda. Ele olha como se estivesse querendo enxergar algo além do horizonte. Vira-se e vai para a direita e faz o mesmo.


Grigori- Nada de terra! Nada de nenhuma costa! O que posso fazer? O máximo de dias que posso aguentar nesse maldito barco é quinze dias! Ou menos, se tiver a sorte de afundar por causa de uma tempestade como a de ontem! E como os dias passam depressa no mar!( Ele volta ao leme e começa a dirigi-lo).


Ouvimos um barulho de mar ao longe, e também alguns barulhos de vida marítima. Grigori está tão distraído que não percebe os barulhos.



Grigori- Eu tinha absoluta certeza que tomando a rota que tomei iria chegar em Samos mais rápido. Por que não fiz a mesma rota de sempre? Por que quis pegar um atalho? ( Mexe duas vezes no leme, olha para frebte como se estivsse olhando para o mar). Droga! Eu realmente preciso achar esse caminho!


Sai de perto do leme e vai até o canto esquerdo e fica olhando para o horizonte. Ele olha para o horizonte mais ou menos uns dois minutos. Depois para, e volta ao leme. Ele se senta em um banquinho e fica desanimado. Passa a mão nos cabelos, suspira longamente.


Grigori- Não sei mais o que faço. Já tentei todas as rotas que ainda conheço. Agora realmente vou ter que operar no modo intuição, se é que realmente sei usá-la. Mas... Não, essas rotas nunca tem navios da marinha. Eles ficam mais a noroeste de onde estou.



Grigori vai até o leme novamente, guia-o por mais ou menos uns dois minutos. Solta. Ele novamente fica desesperado. Toma uns goles de água em uma garrafa. Fica sentado a olhar para a frente.



Grigori- Vou atracar. Não aguento mais. Não, não posso fazer isso. Preciso continuar a tentar achar o caminho.



Ele volta a pegar o leme, mas ele está tão abatido que decide parar de vez de pegar no leme.


Grigori- Vou realmente tirar uma soneca. Não quero continuar a seguir por hoje.



Grigori sai. Ouvimos um barulho de mar e algumas gaivotas. Ouvimos o barulho de vozes ao longe, mas logo o pano desce.



FIM
Poeta