Poemas :  já te conheço
Esse teu rosto é inconfundível,
De olhar caído, reservado
E numa ausência desprezível
Em penitência, choras teu fado,
Sem horizonte e envergonhado
Com lágrimas de sonhos traídos
Em planos e amores volvidos
Que a vida te tem ofertado.

E esse teu andar de pobreza
De espírito aos ombros, descaídos,
Como quem carrega a tristeza,
Como quem perdeu a certeza
De recuperar os velhos sentidos

E essas tuas mãos, inquietas,
Que apalpam o futuro com medo
Num presente que não projectas
Para lá das paredes secretas
Que de tua alma fazes degredo

E esses teus passos seguem o rodopio
De tantos pensamentos irresolutos
Que fazem de cada desejo um vadio
Em qualquer dia que repassa sombrio
Esse dom de propósitos devolutos.

Nas palavras que te ouço, revistas
E poupadas, em curtas frases
Entendo mil histórias fatalistas
Com terminações pessimistas
Na realidade que contrafazes.

Reconheço-te em quem se lastima,
Em ti me vi e assim, já te conheço…
Acontece, a quem de ti se aproxima,
Ficar sem um pingo de auto estima
Para enfrentar a vida com apreço.

Em oposição a qualquer felicidade
Tu existes e resistes vazia de nada
Mas num injusto atentado à verdade
Ainda te confundem com a saudade,
Os que não te conhecem desmascarada.

tavico
Poeta

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