Poemas surrealistas :  CUENTO DE HADAS
Un cuento de hadas,
un cuento sin final,
esto no acaba,
esto no tiene final feliz.

Cuento de hadas,
cuento de un final interminable,
cada noche,
cada historia,
tiene algo que contarse.

Cuento de hadas,
que termina en final feliz,
que termina en tragedia,
que no tiene final.

Cuento de hadas,
cuento sin final,
cuento que termina en final inesperado,
cuento que no termina siempre.

Erick R. Torres
(Angel Negro)
Poeta

Cuentos :  Doação dos olhos
Resolvi! Vou doar meus olhos. Afinal, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que seria o melhor para eles.
O que eles vão fazer quando eu morrer? Se eu não os doar, eles irão comigo e apodrecerão também, não é mesmo? Não, não quero este triste fim para os órgãos que me fizeram ver maravilhas. Ainda mais os meus... Não estou querendo "puxar o saco", mas eles são ótimos. Enxergam bem à qualquer distância. Também pudera, eu os exercito bastante! Estão sempre em forma, apesar das pancadas e dos ciscos que os visitam de vez em quando.

É, vou doar os meus olhos... Será o melhor para eles. Não quero, quando morrer, que lá em cima (ou lá embaixo?), ao encontrar-me com alguém que foi cego, ficar arrependido quando ele começar a se queixar de que, por falta de humanidade, nunca conseguiu ver a terra, o mar, as plantas, as pessoas, os animais... Não sabe como é o azul do céu e do mar, que tanto ouviu falar; Não sabe como é a beleza das flores, das mulheres, das crianças... Que por falta de visão passou por esta vida, sentiu tudo, mas não viu nada; Não pode amar uma mulher (no caso, se eu estiver conversando com algum homem) pela atração física e sim por outros porquês que a falta de visão procura "compensar"... Mas, nunca é a mesma coisa.

Enfim, não quero ouvir o "lenga-lenga” de nenhum cego, e ficar com remorsos. Porque, se algum deles vier falar comigo, eu direi: Meu amigo, eu doei os meus olhos... Agora, não tenho culpa se eles não os deram a você, certo?

E também posso receber algum agradecimento de alguém que foi beneficiado com os meus olhos. E daí passaremos a conversar sobre o assunto:
-- Como é, você gostou dos meus olhos?
-- Gostei sim, rapaz. Eles eram ótimos! E olhe que eu fiquei dez anos com eles, e nunca precisei ir ao oftalmologista... E você, foi alguma vez?
-- Eu fui uma vez só. É que eles estavam "minando", sabe como é, né?
-- Eu sei... Eles ainda estavam com esse problema. Mas isto não era nada. Foi por você força-los muito...
-- Ora, mas afinal, eu tinha que testa-los, não tinha?
-- Tinha, mas foi demais.
-- É, eu devo ter exagerado mesmo... Sim, e como foi você, o que fez com eles?
-- Fiz a mesma coisa que você: Doei-os novamente. Não queria vê-los estragando debaixo da terra...

A.J. Cardiais
1981
Poeta