Poemas sociales :  UM HOMEM MORRE DE FRIO
UM HOMEM MORRE DE FRIO
Nos braços de Morfeu queda a cidade.
Gélida avança a noite sob o vento
Que zune açoites, bravio.
Por leito e barricada andrajos tendo,
Num canto, ao pé de arranha-céu imenso,
Um homem morre de frio...

Agonizando, ali, talvez delire,
Vendo os pedestres últimos, em busca
Do leito morno, macio...
Talvez, sinta-se um deles, por momentos...
Um homem desses, livres das algemas
Do destino. Ah, desvario!...

Morre indigente. Já não mais lhe ocorrem
Reminiscências de melhores dias.
Não tem mais traços de brio.
Distantes sons de uma boate em festa
A custo põe-se a ouvir. Perdem-se, agora,
no seu imenso vazio...

Nem todos dormem. Ornam-se de luzes
Os altos edifícios. E eis, um carro
Pára junto ao meio-fio.
Traz de Mammon uns súditos restantes
Que, indiferentes, tiritando e rindo,
Vão-se com seu vozerio...

Ensaia erguer-se; embalde, embalde tenta...
Thanatos já, movendo as longas asas,
O envolve, terno e sombrio.
À volta, entre as paredes, que ironia:
Há tantos indivíduos que se abraçam
E tanto leito vazio!

Bem cedo hão de encontrar-lhe o corpo, inerte.
Hão de exprobrar-se, por negar-lhe auxílio,
num gesto inóquo, tardio...
Talvez, alma remida, ao sol do Além planando,
Não mais proscrita, logo exulte e louve
O Averno da crosta, frio...

“- Coitado!”... “- Oh, que infeliz!"... “- Quem era ele?"
“- Um ébrio, com certeza". “- Um andarilho."
“- Um réu, talvez, arredio"...
Descerrem seus portais, guardiões do Inferno!
Estendam o seu fogo ao mundo infrene!
Um homem morre de frio...

(Da coletânea "Estado de Espírito")

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http://sersank.blogspot.com
Poeta

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Visitante
Publicado: 8/6/2012 0:59
 Re: UM HOMEM MORRE DE FRIO - p/ amigo e poeta Sersank.

olá. bom encontrá-lo navegando por estes mares.

um relato que corta o coração. 'até quando' -- eu me pergunto -- 'indignar-me-ei com o reverso da medalha
mundana?'

bravo, caro amigo!

abração do rehgge.

Sersank
Publicado: 13/6/2012 4:08
Interesado
Unido: 9-10-2010
Comentarios: 12
 Re: UM HOMEM MORRE DE FRIO para o REGHE

Olá, Reghe, meu caro poeta andarilho!

Também fico feliz em te reencontrar aqui.
Tenho lido alguns trabalhos teus, sempre muito bons. O Paineira Velha , por exemplo, tem muito conteúdo poético.
Olha, estou seguindo o teu blog, viu?
Gostaria de contar com tua presença também no meu: http://sersank.blogspot.com
Um abraço fraterno do
Sergio de Sersank