|
Ahinsa!
Desde as eras primitivas a Terra se nutre do fluido cósmico que abre-lhe entranhas, percorre-lhe inteira. Na etérea poeira de luz das estrelas o fluido lhe vem. Inunda-a de vida esse mágico bem. O sangue dos seres que surgem e passam Gaia o transfunde noutros que, em ciclo ascendente, sustém.
O espírito de Gaia canta na Natureza a música do Infinito. Em culto à beleza, exalta essa Fonte da Vida que a anima. e que ela sublima ao multiplicá-la no espaço irrestrito. Mas traz no seu canto uma ária bem triste. Sofre os excessos dos filhos ingratos. Está no limite. Dá mostras de seus sucessivos maus tratos. Lamentavelmente, comovem a poucos, por certo, aos melhores os duros apelos que emite.
Gaia está farta de sangue, farta dos homens, talvez, porque não cessa a ganância, porque não cessa a violência , esses cancros resultantes da insensatez.
Ciclônico éolo a bramir, convulsiona o oceano, rebenta do solo, feroz. Sofrem-lhe muitos a fúria. Ouvem-lhe muitos a voz.
Há os que riem e bebem e comem, com as mãos manchadas de sangue. Sabem que a Terra prescinde do homem. Nenhuma voz os confrange.
(Da coletânea “ESTADO DE ESPÍRITO”)
..............................................
AHINSA! (En Esperanto)
Serĝjo de Sersank
De la primitivaj tempoj - kia profunda mister’! - el kosma emanaĵo, kiu plene ĉirkaŭas kaj ĝin trapenetras, nutriĝas la Ter’.
Simile al l’etera pulvo, devenas tiu ĉi fluido el la senfina stelar’ kaj ĝi alportas la vivon - miraklo ja sen kompar’. La sango de ĉiu estaĵo, tuj naskita jam pasanta, transfuzas Gaja en aliaj, tio ĉi en ciklo kreskanta.
Tial, la animo de Gaja aŭdigas en la Naturo la muzikon de l’ Senlim’. Tiele, ŝi laŭdas la dian belecon de l’ Vivofonto kiu vigligas ŝin kaj kiu sublimigas ŝî per disdonad’ en ritmo intensa, eble sen fin’. Tamen, la kanto de Gaia nune fariĝas ia tristega ario. Pro tio ke agresojn de nedankaj filoj jam multe suferas, nun ŝi kantadas en frua agonio. Ve, bedaŭrinde, nur kelkajn homojn la plibonajn, certe, kortuŝas la petoj, kiujn, averte, elĵetadas ŝi. Jam Gaja satiĝis je sango. Eble je la homoj ankaŭ satiĝas, ĉar ne ĉesiĝas la homa perforto, eĉ la homa ambici’ ne ĉesiĝas. Ho, furnaj ŝankroj de l’ homa nesci’!
Ciklona Eolo, blekante feroca, diskrevas el la subgrundo, agitas la maron, subite. Multaj suferas sian furozecon, multaj aŭdiĝas sian voĉon, aflikte.
Ja multaj malgraŭe ridegas kaj drinkas kaj manĝas, je sango malpurajn havante la manojn . Tiuj sciadas: la Ter’ sin aranĝas: neniel bezonas la homojn. Tamen, nenia voĉ’ ilin tuŝas. Nenia far’ ilin ŝanĝas.
(El la poemaro “SPIRITOSTATO”)
|
Poeta
|
|
No princípio, apenas Deus, nada mais, mais nada havia. Na eternidade do espaço o tempo não transcorria. De nada valia o espaço. De nada o tempo valia.
Deus – o Supremo Senhor do tempo - todo esse espaço desde sempre percorria. Sonhava um novo universo que outro antes deste, por certo, pleno de luzes teria.
A vida – esse dom sublime – por Ele e n’Ele vibrava, dava ao Nada algum sentido. Fazia lembrar um quadro distante das mãos do artista e ainda descolorido.
Pois que a noite dominava, até que o bom Deus com arte, amor e sabedoria, fez eclodir de entre as trevas esplêndido sol, gigante, ao qual chamou “Luz do dia”.
Surgiu, assim, a matéria, como a lava incandescente no interior de um vulcão. Estrondo intenso deu corda ao tempo – o relógio eterno. E o espaço ocupou-se, então.
Novas estrelas e mundos e, dentre eles, o nosso recebem a luz da vida. Pródiga, a natureza faz da Terra a jóia ímpar que Deus, o Ourives, lapida.
E sem que saibamos como, nem para que, nem por que chegamos e d’onde viemos, ao escrever nossa história, outros pequeninos deuses orgulhosos nos fizemos.
O belo planeta azul é o lar-escola que herdamos. Malgrado sofra os reveses do homem dominador, devemos confiar, crianças, que nos governa o Senhor.
(Da coletânea de Sergio de Sersank)
Visite o blog "Estado de Espírito": http://sersank.blogspot.com
Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/ne ... ryid=225212#ixzz1ydfClR2i Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
|
Poeta
|
|
Blua sfero, grandioza kosma juvelo, tre soleca Tero-Mar’, ĉu vi rondiras cele al deklin’? Voraz vermo vin penetras, ellasas algidan febron, kaj baldaŭ devoros vin.
Ĝi sin movas tra l’ homaj vejnoj. Sur iliaj pacaj kampoj ĝi kondukas ekstermon. La verbo de la avareco naskas ĉi voreman vermon.
Kiu do nin povos savi de tiu speco da malsano, jam de multe nin hantanta? Ho, tia angoro de havi, plu kaj plu kaj ĉiam havi - fatala febro - sole en la homo manifestanta!...
|
Poeta
|
|
Esfera Azul, joya inmensa, solitaria Tierra-Mar, ¿hasta cuándo volverás? Gusano voraz te penetra y la fiebre que desencadena está a punto de te devorar. Fluye por las venas de los hombres, mina a los campos de paz. El verme de la avaricia crea esse verbo voraz.
¿Quién puede salvarnos de esse mal que nos infesta? Ah, ansia de tener y aindamáis tener – fiebre funesta – que sólo en el hombre se manifiesta! ...
(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sersank)
Visite o blog: "Estado de Espírito" http://sersank.blogspot.com
|
Poeta
|
|
Esfera azul, jóia imensa, solitária Terra-Mar, até quando irás girar? Um verme voraz te permeia e a febre que desencadeia está por te devorar.
Circula nas veias do homem, mina-lhe os campos da paz. O verbo vil da avareza cria esse verme voraz.
Quem poderá salvar-nos desse mal que nos infesta? Ah, ânsia de ter e mais ter - febre funesta - que apenas no homem se manifesta!...
(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sersank)
|
Poeta
|
|
Nos braços de Morfeu queda a cidade. Gélida avança a noite sob o vento Que zune açoites, bravio. Por leito e barricada andrajos tendo, Num canto, ao pé de arranha-céu imenso, Um homem morre de frio...
Agonizando, ali, talvez delire, Vendo os pedestres últimos, em busca Do leito morno, macio... Talvez, sinta-se um deles, por momentos... Um homem desses, livres das algemas Do destino. Ah, desvario!...
Morre indigente. Já não mais lhe ocorrem Reminiscências de melhores dias. Não tem mais traços de brio. Distantes sons de uma boate em festa A custo põe-se a ouvir. Perdem-se, agora, no seu imenso vazio...
Nem todos dormem. Ornam-se de luzes Os altos edifícios. E eis, um carro Pára junto ao meio-fio. Traz de Mammon uns súditos restantes Que, indiferentes, tiritando e rindo, Vão-se com seu vozerio...
Ensaia erguer-se; embalde, embalde tenta... Thanatos já, movendo as longas asas, O envolve, terno e sombrio. À volta, entre as paredes, que ironia: Há tantos indivíduos que se abraçam E tanto leito vazio! Bem cedo hão de encontrar-lhe o corpo, inerte. Hão de exprobrar-se, por negar-lhe auxílio, num gesto inóquo, tardio... Talvez, alma remida, ao sol do Além planando, Não mais proscrita, logo exulte e louve O Averno da crosta, frio...
“- Coitado!”... “- Oh, que infeliz!"... “- Quem era ele?" “- Um ébrio, com certeza". “- Um andarilho." “- Um réu, talvez, arredio"... Descerrem seus portais, guardiões do Inferno! Estendam o seu fogo ao mundo infrene! Um homem morre de frio...
(Da coletânea "Estado de Espírito")
Leia mais no blog: http://sersank.blogspot.com
|
Poeta
|
|
Ni estrellas, ni encuentros, ni sueños en esa noche tan oscura. Solo imagenes de otras noches disipadas en la aventura.
Riñas de las calles sin salida. Susurros. Clamores. Risas. Túrbias y falsas miradas. Y disimulados crímenes.
Pesado en los hombros un gênio maldito le gritó: - Vuelve! Era inútil su grito.
Lejos de las luces de los burdeles, diose cuenta de que era tarde. Entonces volver, tonteria. Al son de sus pasos de agotada fiera, ladridos de perros evocaban la policía.
Informes, y ya sin voz, con el viento se erguiram sus extintos afectos de entre las sombras del olvido. En el viento vagaron, dilapidados, extractos de sus dramas y pasiones sin sentido.
De ropa vieja, sombrio el semblante, como avantesma del más allá forajida, siguió sin volverse un único instante.
Así como un soterrado salido del túnel, bañóse en el sol que muy rojo ya venia. Nuevo rumbo en el rojo horizonte aunque arduo seguiria.
(El libro “Estado de Espírito” de Sergio Sersank)
|
Poeta
|
|