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Depois de ter lido tanta coisa esta semana Acabei por descobrir o porquê de escrever mal. Porque escrevo quando me dá na gana, Meus poemas têm uma qualidade banal.
Apercebi-me que os poetas, os que são bons, Começam a escrever e as palavras deslizam, Mas nem todos são assim, é preciso o dom E as palavras colam, as rimas improvisam.
As palavras descem o rio da nascente à foz Com facilidade, sempre sem escolhos Como um cantor de ópera solta a sua voz Como as lágrimas que se soltam dos olhos.
As minhas palavras são peixe, que muito luta Que como o salmão nadam em contra corrente Nado ao contrário dos bons poetas, não sou truta, Espero continuar a aprender a nadar, tenho em mente.
A. da fonseca
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Poeta
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Deixa-me navegar nesse teu tão belo corpo Como barco à vela ao sabor dos teus desejos. E que vagas mansas que me baloicem docemente. Deixa os meus lábios sentirem o sabor a sal Da tua pele acetinada que faz de mim um delinquente. Um delinquente do amor que rouba dos teus lábios Todo esse mel que me extasia e é meu madrigal. Deixa-me sugar as lágrimas que da tua fonte brotam, Fontes tão lindas que são os teus olhos verdes Como o mar do teu corpo onde eu quero navegar, Deixa o meu barco à vela naufragar nos teus seios Dá-lhe no teu regaço um porto de abrigo Onde ele possa ficar amando e longe de todos os perigos.
A. da fonseca
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Poeta
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A calçada da rua onde tu moras Está molhada pelas lágrimas Caídas das nuvens das tuas ilusões. Talvez lágrimas de arrependimento Pois sabes bem como eu sou ciumento. Creio que somos dois seres desencontrados Dois amores desalinhavados Como se fossem dois amores diferentes. Esqueces-te os momentos esplendorosos Em que nosso amor era Rei, Rei de esperança Rei de emoções, Príncipe dos nossos lençóis Que voavam em remoinho Quando se uniam os nossos corações Nossos lábios em desalinho Tais voltas e reviravoltas Loucura do desejo de nossos corpos. E tu tudo esqueces-te. Hoje choras e eu estou esperando Que te lembres do mar de rosas Que o nosso quarto enfeitavam Que a fragrância do seu perfume Os nossos corpos inundavam Perfumando o meu ciume.
A. da fonseca
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Poeta
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Passeio num prado de letras de versos e de rimas. Respiro o ar puro da paz e do amor que nele reina. Vejo as letras que passeiam com os irmãos e primas E o meu espírito respira livremente nada o queima.
Mais além vejo um poema de amor em pleno prado Não me aproximo, leio à distancia; não o incomodo, Aprecio e sei que tem um coração para ser amado Qual paixão apaixonada de amor, tudo é um todo.
Olho em redor e mais longe um poema dedicatória Representa a amizade que deve de existir em nós. Sem hipocrisia, sem cinismo, mas bem natural.
Amizade, amor, simpatia mesmo que seja virtual, É o que ser humano precisa, é a melhor vitamina Para que o corpo, a mente, o coração sejam roseiral
A. da fonseca
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Poeta
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Eu gostava de quando morrer, morrer contente. Contente por saber que todos os meus ficariam bem Sem problemas para o futuro na minha ausência Saber que anos mais tarde morreriam felizes também.
Não tenho medo da morte mas tenho medo de morrer. Como viverá a minha esposa? não terá ela dificuldades? Quero que ela se sinta feliz depois da minha partida, Que ela viva a sua vida e não viva só com as saudades.
Ah... se houvesse uma vida depois da morte, invisível! Que essa vida me desse a possibilidade de a proteger, Que ela não me visse mas que se sentisse protegida E assim mesmo sem mim ela muito feliz pudesse viver
A. da fonseca
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Poeta
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Continuar a escrever será coisa que valerá a pena? Não sei! por vezes é como subir ao alto da montanha, Gritar e o eco não existe. É como montar uma cena E no fim, não haver actores para executar a façanha.
Então para quê se cansar para tentar chegar ao cume? Procuram-se os caminhos que nos levem lá a cima, E não se faz tudo isto por ter vaidade ou por ciume Mas sim pelo gosto de escrever e saber ligar uma rima.
As palavras, as rimas, são como os caminhos tortuosos Que fazem sofrer aqueles que que lutam para os vencer. Ser poeta é como ser alpinista a mãos nuas, virtuosos Que lutam, que sofrem, para conseguirem bem escrever.
E quantos chegam ao pico da montanha ou da poesia? E quantos são reconhecidos como de bons escritores? Quantos escrevem e nem sequer são lidos, são porcaria, Sendo assim julgados, talvez porque não sejam doutores.
Mas eu considero que sim, escrever vale sempre a pena. Como subir uma montanha mesmo que seja só pelo prazer, Se gritar e se não houver eco é porque o mundo é uma arena Onde não há um lugar para fazer crescer um malmequer.
A. da fonseca
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Poeta
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Deixem-me caminhar não me impeçam Pelos caminhos que fui eu que escolhi. Mesmo se os meus passos tropeçam Nos caminhos abruptos dos vales ou das serras, É o meu caminho! É neste caminho que me sinto bem e feliz. Nunca caminhei por caminhos que não me fossem hostis, Aqueles feitos de tapeçaria, neles nunca caminhei Não foram feitos para mim e nem sequer os conheço. Todos os meus caminhos são sinuosos e lá continuarei. É o meu caminho! Não é em caminhos de cetim que se aprende a viver, Aprende-se levantando os rochedos que se nos deparam Fazendo nós mesmos com que o nosso caminho seja mais doce Para continuarmos a aprender a viver até morrer. É o meu caminho!
A. da fonseca
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Poeta
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Naquela janela invisível No prédio que não existia Era uma visão terrível Pois que nunca ninguém a via.
Passavam sem fazer atenção Nunca davam uma olhadela É gente que não tem coração Não gostavam da janela.
O construtor ria a bom rir Ao ver tanta gente passar Quis fazer o prédio cair E com a utopia acabar.
Resistiu e assim o manteve Pois como o prédio não se via Uma bela consciência ele teve Pois que muita gente morria.
Ninguém o veria tombar Pois que ninguém via a janela Não queria ficar a chorar Por uma janela tão bela.
A. da fonseca
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Poeta
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Estendam a passadeira vermelha e deixem a crise passar. Ela la vai vaidosa, poderosa, ninguém a impede de continuar. A quem interessa que ela pare? A nós, que pagamos a despesa. Aos senhores do capital só lhes interessa que neles fique presa.
Banqueiros, petrolíferas, paraísos fiscais e as taxas correm Sempre apressadas para entrar nos bolsos dos que pouco comem. Que não têm onde dormir, sim, debaixo de pontes morrendo de frio, Ninguém os vê ou não os querem ver, é como água que corre no rio.
É um fartar vilanagem, obesos de sobranceria e de vil desprezo. Nós trabalhamos duro para viver, mas não conseguimos o peso Para fazer o prato da balança descer para o nosso lado, é ilusão; Enquanto os donos da crise enriquecem, o ouro cai-lhes na mão.
A. da fonseca
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Poeta
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Porquê, mas porquê eu me sinto incomodado Pela miséria, fome, sede, sem abrigo, sem Sol Que possa aquecer tanta criança fria no gelado Dos corações que os vêm passar sem terem farol.
Porquê tudo isto me enerva quando o Mundo é rico E eu? que faço eu ? Escrevo, barafusto revoltado Por não ter meios de ajudar mas certo, não abdico De gritar bem alto, olhem, escutem o desamparado.
Mas tenho a impressão que o egoísmo é mais forte Só vêm o que querem vão assobiando para o lado Como se não fossem do mesmo mundo, é a morte Dos sentimentos que faz que o mundo ande atrasado.
Olhem, lá ao largo aquele cruzeiro de luxo navegando. Vejam o parque dos Casinos, não há lugar para o carro. Vejam a roleta, o bacará, e o dinheiro vai esbanjando. Reparem naquele garoto que pede esmola, como é bizarro!
A. da fonseca
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Poeta
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