Crónicas :  Experimentação ou possibilidades
Não leio nada como um “estudo”... Ou talvez seja um estudo, o que eu procuro ler por curiosidade e prazer. Não sou adepto de nada, nem contra nada. Sou a favor da liberdade. Liberdade de expressão. Mas, com uma condição: procurar saber, procurar conhecer. Isso não significa fazer tal e qual “aprendeu”. Significa que sabe, conhece, mas segue o que quer seguir, o que dá prazer.

Se tudo que se aprendesse, fosse obrigado a fazer tal e qual, as coisas nunca mudariam.
Na poesia por exemplo, eu sempre enfatizo para que leiam Drummond, Bandeira, Quintana, Leminski e outros. Eu peço que leiam, não como uma “obrigação”... Leiam para ter alguma ideia; para fazer alguma comparação. Se gostarem, continuem a leitura. Não acho válido alguém ler algo “só para mostrar que sabe”, sem nenhum prazer.

Mario Quintana disse: “Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem é a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família”. ¹

É a isto que eu estou me referindo: ler algo que lhe é indiferente, só porque foi escrito por alguém de renome...
Esse texto de Mario Quintana (Carta), quem se arvora a escrever poesia, deveria lê-lo, é ótimo.

¹ Mario Quintana
Em: Carta
Coleção Melhores Poemas
Ministério da Educação – FNDE
Pag. 90

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Eu, um anti poeta?
Acho que eu sou um anti poeta ou não existe poeta nenhum em mim. É só um personagem, um “encosto”... sei lá. Não sei definir o que é “ser poeta”. Só acho que não é só "escrever poesias”. Deve ser muito mais do que isto. É uma filosofia de vida ou algo assim. Talvez eu esteja exigindo muito do poeta.
Quando eu tenho que participar de algum evento, que é preciso dizer qual é a minha “função”, eu digo “poeta” com tanta timidez, que até parece que estou mentindo. E quando alguém me chama de poeta, eu adoro o título, mas fico como alguém que recebeu uma armadura bem maior de que o corpo franzino.

Para mim, ser poeta é uma responsabilidade muito grande. Quando penso em Castro Alves, Gregório de Matos, Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante... (isto, só na esfera da Bahia) me sinto pequenininho. Não me acho digno de ostentar o título. O que alivia o meu sentimento é ver tanta gente, só porque escreve alguns versos, se auto intitulando de poeta sem, ao menos, procurar conhecer a história dos grandes poetas; sem procurar saber alguma coisa sobre a própria poesia. Mesmo que não faça uso do que aprendeu. Eu, pelo menos, procurei e procuro saber alguma coisa sobre os poetas e sobre poesias. É esse pouco saber que me salva.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  É preciso curiosidade
Posso até estar enganado, mas defendo uma tese: Ninguém precisa cursar uma Faculdade de Letras, para ser Poeta. Primeiro porque a faculdade não forma ninguém em poeta. Como todas as artes, ser poeta é um dom. E se for olhar na história, os nossos poetas de renome não cursaram Letras, cursaram Direito, Farmácia etc. Eu, depois de estar trilhando pelos caminhos da poesia, fui cursar Letras, pensando em dar mais “peso” à minha poesia... Só cursei quatro semestres. Vi tanta coisa, que achei que acabaria me perdendo. Depois, lendo sobre Paulo Leminski e sobre Fernando Pessoa, fiquei sabendo que eles também abandonaram a faculdade de Letras. Juro que fiquei mais aliviado. Mas não é o certo, pois uma Faculdade é muito importante. Ela sempre abre novos horizontes. Contudo a questão aqui é sobre a curiosidade. Então vamos ao que interessa: Escrevi uma crônica (Eu, Um Anti Poeta?) que deve ter mexido com os brios de muita gente. Inclusive com o meu. Vou tentar me explicar: acho que as pessoas que se "arvoram" a escrever poesia deve, pelo menos, procurar saber um pouco a história da poesia e sobre alguns poetas. Não como um pesquisador, como um curioso. Afinal, a pessoa tem que saber alguma coisa sobre o que ela está fazendo. É como se estivesse “pedindo licença” para trilhar por este caminho, e reverenciando os que já trilharam.
Agradeço ao Oswald de Andrade por ter ousado em romper com os “moldes” de fazer poesia de antigamente: O Parnasianismo e o Simbolismo. Mas ele cometeu um ato que eu acho que foi um pecado: ele desfez dos poetas antigos e queimou livros dos poetas. A mesma coisa, fizeram os Poetas Marginais: desfizeram dos poetas antigos, queimaram livros de Drummond etc. Alguns até disseram desconhecer a poesia de Drummond. Acho isso uma falta de respeito. Se alguém não concorda com o que está sendo feito, exponha seu trabalho para ver se vai agradar o povo; se vai “pegar”. Mas não precisa desfazer de ninguém.

Olhem quantas “escolas” passaram pela poesia depois do Modernismo: o próprio Oswald criou a Antropofagia, em 1928/29. Em 1956 veio o Concretismo, querendo acabar com as palavras, propondo uma poesia mais visual do que literária. Em 1959, poetas ligados ao Concretismo se desentenderam e criaram o Neoconcretismo. Este, já se preocupando mais com as palavras. Em 1962 Mario Chamie cria o Praxismo. Em 1967 Wladimir Dias Pino cria o Poema-Processo. Este também abandonando quase que completamente o uso das palavras. Eles confeccionaram um “pão poema-processo” de 2 metros, que foi comido por 5 mil pessoas, numa Feira de Arte de Recife. E finalmente em 1970 (mais ou menos), a “Geração Mimeógrafo” ou a Poesia Marginal (da qual eu sou fruto), com uma poesia mais desligada, sem compromisso com os métodos acadêmicos. O que foi bom na Poesia Marginal foi que ela não veio como uma “escola” ditando ordem, ditando conceitos. Ela veio rompendo com os já existentes e deixando a poesia livre de qualquer molde, de todas as normas.
Vou frisar mais uma vez: tudo isso que eu escrevi é fruto da minha leitura "descompromissada", da minha curiosidade. Li como um lazer, não como um pesquisador em busca de fatos para comprovar alguma coisa.

A.J. Cardiais
20.11.2011
Poeta

Crónicas :  Falando de poesia
Para mim é uma tortura digitar uma poesia que eu não gosto... Aí você me pergunta: Se foi você quem fez a poesia, como é que você não gosta? Eu respondo: Tem poesia, que depois que passa a “euforia”, eu não acho mais interessante. Antigamente eu jogava fora. Mas agora, eu deixo jogada lá no fundo da gaveta. Às vezes nem digito. Fica lá, no manuscrito. Vou deixando ela de lado e vou digitando as que eu gosto. Tem poesia que eu tento digitar várias vezes, mas não consigo. E ela vai ficando encostada... O engraçado é que algumas vezes, quando eu vou mexer nas “encostadas”, encontro alguma bastante interessante. Aí eu fico me perguntando por que eu não digitei aquela poesia. Então, aproveito a empolgação e digito logo. Talvez, se eu deixar para outro dia, não sinta mais a mesma emoção.
Lendo uma entrevista com o compositor Francis Hime (eu acho que foi ele), ele disse que tinha composições que ele não gostava. Então, deixava em um canto, não mostrava a ninguém...
Algum tempo depois, ele ia dar uma olhada “nas rejeitadas” e encontrava verdadeiras preciosidades. Coisa de doido ou tudo é o momento? Não sei... Só sei que de vez em quando (várias vezes) eu estou criando coragem, digitando minhas “bombinhas” e mandando para vocês rsrsrsr.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Mau conselho
Escrever algo e postar, é como montar um telhado de vidro... Você tem que estar preparado para receber de tudo: Tanto a luz do sol e da lua, como as pedradas e as tempestades. Afinal você estará expondo o seu pensamento, a sua vontade, a sua verdade, a sua mentira... sei lá, você estará se expondo. E se expor, até para quem gosta de chamar a atenção, é preciso ter "argumento". Principalmente se for escrevendo. Vai ter gente dizendo que você deveria ter feito assim e assado, que você deveria ter usado isso e aquilo... Vai ter gente criticando a sua linguagem, vai ter gente apontando as suas falhas... Mas também tem o seu lado bom: Além de você "descarregar" o seu sentimento, pode ter alguém elogiando a sua maneira de escrever, pode ter alguém elogiando a sua coragem de se aventurar a escrever sem ser nenhum acadêmico, pode ter alguém lhe agradecendo, por você ter mostrado um novo caminho... (tudo isso é suposição de sonhador).

Mas o mais importante é a adrenalina que ficará reinando, enquanto você espera o resultado da sua "ousadia". Eu falo "ousadia", porque quem já escreve cheio de pompa, cheio de conhecimento e senhor de si, só espera colher louros com o seu texto. Quando ele mostrar o "currículo", ninguém se atreverá a dizer que o texto dele é ruim. Se o cara for doutor, professor, pós isso, pós aquilo (só tem pós, nenhum pré), acadêmico, neurastênico etc, todo mundo só terá boas falas. Quem se atreverá em atacar o doutor sabe tudo? Os outros doutores serão os primeiros a acobertarem qualquer "falha". Estou fugindo do meu objetivo, voltemos:

Lembre-se que você estará expondo a sua maneira de pensar, de ver e sentir a vida e as coisas. Então não espere que todos que lerem o seu texto, vá pensar como você. Explique o que precisar ser explicado, aceite o que precisar ser aceito, mas não compre briga. Ninguém chuta cachorro morto. Então, se chutarem você, é porque você está vivo. Tente ficar mais vivo ainda. Procure escrever o mais correto que puder, para não começar uma "escola" de escrever errado. (Já basta a internet) No mais, é acreditar no que você faz, e tocar em frente. Se não fosse com a ousadia, Oswald de Andrade não teria modificado a forma de escrever poesia.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  A liberdade de escrever
O bom da crônica é isto: A liberdade de escrever sobre qualquer assunto. Pode ser o assunto mais sério ou o mais bobo, mais vulgar. Tudo serve para comentar... Até a falta de cometário. Dizem que palavra "crônica" deriva da palavra grega "chronos", que significa tempo. Então, se a crônica significa tempo, ela está com tudo: Com o passado, o presente, o futuro, as horas, as eras, o sol (tempo bom), a chuva (tempo ruim)... E acontecendo o tempo todo. O tempo é tudo. Talvez seja por isso que tudo é um motivo para uma crônica.

Eu já li crônicas que, nas suas palavras, não queriam dizer nada. Mas no seu bojo trazia uma infinidade de ideias que só quem gosta de ficar observando a vida, é que é capaz de entender. Então os que não têm essa "visão especial" devem achar uma besteira. Mas isso é bem da crônica. Tem tantas "bobagens" acontecendo por aí, que as pessoas nem percebem... O próprio tempo, por exemplo. O sol surge, passa por cima de nós e vai embora. As pessoas já estão tão acostumadas com essa besteira, que só notam quando precisam dele e ele não está lá para servi-las. Caso contrário nem notariam sua presença ou ausência.

As pessoas vivem muito preocupadas com os seus afazeres, sonhando em ganhar dinheiro ou procurando esquecer-se das mazelas da vida. Então não têm tempo de ficar observando essas "besteiras de tempo". Afinal, isso serve para quê? As pessoas só querem saber de coisas úteis, de coisas que possam vender ou, no mínimo, servir para um debate numa roda de amigos. É por isso que assistem os BBBs da vida: Para não ficarem por fora do bate papo. O importante é participar. Não interessa a importância do assunto. Aí, quem não gosta de ficar debatendo "BBBesteiras", fica de fora observando as besteiras do tempo e aproveitando para escrever uma crônica besta.

A.J. Cardiais
Poeta