L i l á s
Juntei, com um desejo audaz,
Um pouco de azul do infinito
Ao imenso branco da paz
Em que acredito,
E ao azul claro
Que compreendo
Juntaria o verde esperança,
Que ainda é do meu amparo
Desde o tempo de criança,
Mas, não te vendo,
Logo hesitei ,
Porque o marinho raro
Seria apenas do teu olhar
E não o todo que sonhei
Para me entregar,
E num derradeiro preparo
Ao tal azul claro
Dou uma gota de mim
Em vermelho de vida
Sentindo que assim,
Compreendida,
Estonteante virás
Para o meu amor
Na a tua cor
Lilás .
tavico
não me ames
Não me ames,
Por um louco
Não te enganes,
Não apostes num fracasso.
Não consegues,
Tampouco
Não te entregues,
Não invadas o meu espaço.
Não te despeças,
Por agora
Não me peças,
O amor que não te dou.
Eu me perdi,
Em má hora
Não te vi,
E minha alma desertou.
No teu rosto,
Já impedes
O tal gosto,
Tão salgado da tristeza.
Com um gesto,
Te despedes
E todo o resto
Se reflecte na incerteza.
Digo basta,
Num aperto
Que me afasta,
Inquieto de ansiedade.
Mas o tempo,
Em desacerto
Com o desalento
Atrasa-me a felicidade.
Lá vou indo eu , assim
Sem paradeiro
Pois para gostar de alguém,
Para acreditar, também,
Preciso de gostar de mim
Primeiro.
tavico
Olá
Olá! Estou aqui
Na rua dos desgraçados
Que abre ao público quando a noite cai
Procurem-me nos perdidos e achados
Estou lá de passagem
Como quem lá vai
Estou mesmo à saída
Com esperança na bagagem
Como quem nasce para a vida.
O_tavico
abandono
Á margem da sociedade
Oiço uma caixa de sonhos
Tocando para a saudade
De outros tempos, risonhos
Por força do destino
Pousado em ombro idoso
O teu velho violino
Solta um som harmonioso
Solta um som
Para tão duros corações
Como a calçada que o rodeia
Porque a vida é de opções
Com que cada um se enleia
Solta um som
Por entre uma cidade
Que se cruza em corrida
Sem dó nem piedade
Louca e desprendida .
E assim se desune
A nossa raça
Que consegue e passa
Imune
Sim imune
A essas notas que entoam
Como musica sofrida
De solidão, de tristeza
E voam…
Em abandono de vida.
tavico
folhas de outono
Folhas de Outono caindo
Nasce o Inverno, então
A Primavera vai florindo
Morrem os campos no Verão.
Cá do alto do castelo
A minha vista se dispôs
Em redor deste Estremoz
Vendo tudo tão belo
E pela escrita revelo
Aquilo que vou sentindo
Com os meus olhos sorrindo
Por qualquer fase do ano
Vendo ao sol alentejano
Folhas de Outono caindo.
Folhas tais as que escrevo
Que me não as leve o vento
Ou se vai o meu alento
E tudo perde o relevo.
Tal sentimento que levo
É o das folhas que vão
Mas já paradas no chão
Jazem molhadas à espera
Porque o Outono já era
Nasce o Inverno então.
Então dono da esperança
Deste povo ansioso
Que te quer longo e chuvoso
Ansiando pela bonança
Um desejo de mudança
Que se quer evoluindo
A Deus se vai pedindo
E às quatro fases da lua
Porque a vida continua
A Primavera vai florindo.
Quanta vida numa flor
Grande dom da natureza
O nascimento é uma beleza
Dar a vida é puro amor.
Mas não há vida sem dor
Nem há bela sem senão
Não está na nossa mão
Nem somos donos da sorte
E como não há vida sem morte
Morrem os campos no Verão.
tavico
valsa de sedução
Vi-te, olhos nos olhos,
Por mim a passar
Uma saia aos folhos,
E em mim a rodar
Fascinação.
Segui-te,
Numa sala repleta
Mandei meu olhar
Numa volta discreta
Para tentar
Aproximação.
Um convite
Do instinto atrevido,
Dum sorriso que avança
Para o apetecido
Jogo de dança
E sedução.
A curiosidade cresce
No malandro revés
Desse olhar,
Nossos reparos
Rodam em desencontros
Numa vontade
Desinteressadamente falsa,
Continuamos a dançar,
Mas separadamente,
Uma sedutora valsa.
Senti-te
Num roçar de braço,
Tão perto que estou
Subtil embaraço
Que me acelerou
O coração.
Conheci-te,
Já apresentados
Não sei o que faça
Um pouco corados
Quase sem graça
E emoção.
Perdi-te
No alcance da vista
O jogo acabou
Gorou-se a conquista
E tudo ficou
Na ilusão.
tavico
espero-te
Vou esperando sentado
Por esse bem demorado
Mas já palpito de sede
Que esta espera não mata
E fico sem hora nem data
Como um tolo desesperado
Num arrojado salto sem rede.
Só espero sair deste fosso
É que estou já que nem posso
Com a minha fé a ceder
Mas enquanto espero existo
Quando quero até resisto
E faço do amor o meu osso
Que me é tão duro de roer.
Espero um último ai
Duma esperança que cai
Aos pés daquilo que fiz
Mas na espera que ocorre
Algo há que não morre
Como uma força que vai
Ajudar-me a ser feliz.
Espero-a não sei de onde
Nem sei se me responde
Ai o tempo que me é pouco
Mais um minuto de espera
Será amor? quem me dera...
Então porque se esconde
E me vai deixando louco?
Espero-te na minha rua
No mar, no campo, até na lua
Mas...ó amor sem lugar
Com a espera eu não avanço
Sem amor eu não descanso
E a minha vida será tua
Se me quiseres abençoar.
Espero-te a cada dia
A cada noite por via
Do amor que tu me dás
E na espera em que estou
Pelo amor que eu te dou
Sei de quanta alegria
O teu amor é capaz.
tavico
homem vazio
Noutro fugaz intuito
Meu, de alcançar o horizonte
Alguém que anda a monte
Dá-me um encontro fortuito,
Um ser, nunca vi, tão vazio
Que, sem eu querer, me dá pena
Ver esperança tão pequena
E só, em tal desvio .
Quero tratá-lo de amigo
Ao homem que não me dá mão
Desconfio de solidão
Que não tem o coração consigo,
Literalmente me disse
Que dinheiro já não tinha
Nem um emprego lhe vinha
Nem nada que lhe sorrisse,
Que morreu para a amizade
Numa família onde está a mais
É órfão de deus e dos pais
Com saudades de ter saudade,
Ó homem de coragem louca
O que eu disser ás condições
Em que vives, serão palavrões
Pois sem palavras me fica a boca .
tavico
PORQUÊ ?
Porquê? só a morte de um amigo
Nos confunde em marés de emoções
Emolduradas com tantas e tantas questões
Numa partilha de tamanho castigo
Numa impotência que nos condena
Nuns olhares de palavras mudas
Num apaziguar de bocas linguarudas
Ao pesar aquilo que não vale a pena.
Numa raiva onde desmoronamos
Numa vida demais injusta e atroz
Em lágrimas que nos abafam a voz
Numa verdade em que não acreditamos.
É essa a verdade que se atrasa
E nos encontra talvez mais tarde
Quando nos aperta a saudade
E por uns momentos nos arrasa.
É com muito amor que as evito
Esta verdade e a saudade em mim
A vida de um amigo teve um fim
Mas em minha alma o ressuscito.
Tenho-te bem vivo na memória
E o prazer de rever cada passagem
Com o mundo ouvinte da história
Que conto em tua homenagem.
tavico
O Sino
Toca o sino pela aurora
Incessante e lá do alto
Solta um breve sobressalto
Por quem teve a sua hora .
Quem será? pergunto ao vento
Que transmite com perícia
O que a igreja faz notícia
E é de morte o sentimento .
Toca o sino alguém chora
Oiço aqui do vento norte
Um pesar por triste sorte,
Mas quem a sente por fora
No tempo não se demora
E há vida depois da morte .
tavico