Crónicas :  Quando a morte vem
As pessoas precisam entender que não existe “preparação” certa, para evitar a morte. Quando o médico manda o paciente evitar de comer gordura, fritura, sal, açúcar, deixar de beber, de fumar, fazer exercícios etc, ele está fazendo isso para que a pessoa viva com saúde e evite as doenças. Quando ele fala que se a pessoa continuar fazendo uso dessas coisas irá morrer logo, eu acho que ele só esta querendo assustar. Acredito que a morte só leva alguém, quando chega o dia da pessoa. Se fosse assim, todas as pessoas que malham e que se cuidam, só morreriam bem idosos. Mas não é o que a vida nos mostra.

Vejam como só morre quem tem que morrer: Quantos acidentes você já ouviu falar que, entre várias pessoas, só uma ou duas ficam vivas? Uma vez eu li (isso já faz tempo) que um avião havia caído em um lugar, e o único sobrevivente foi um bebê... Como pode? O caso do cantor Herbert Viana é um exemplo.

Tem gente que come tanta “porcaria” que faz mal à saúde, e não sente nada... Às vezes morre de velho. Tem gente que bebe, fuma... pinta os canecos, e só vai morrer depois de velho. Aí vão dizer: É uma questão de genética. Recentemente um médico, de 51 anos, morreu vítima de infarto fulminante. Como eu não entendo de medicina, eu pergunto: Para ele ter esse infarto fulminante, ele já deveria apresentar qualquer sintoma que indicasse essa possibilidade, não? O cara era presidente do Sindicato dos Médicos. Não é possível que ele não soubesse qualquer coisa, a respeito dele mesmo. Segundo estou lendo aqui no jornal, ele mesmo entrou em contato com a SAMU, quando sentiu-se mal. E quando estava sendo encaminhado a um hospital, teve duas paradas cardíacas.

Se fosse uma pessoa qualquer, talvez até os parentes ficassem culpando os médicos do SAMU, pela morte. Dizendo que eles demoraram, que eles foram negligentes etc. As pessoas sempre querem um culpado para a morte de alguém. E a morte, como não é besta, procura sempre uma desculpa pra dizer que a pessoa morreu por causa disso e daquilo, não porque chegou o dia da pessoa partir.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Quando a morte vem
Quando a morte vem
As pessoas precisam entender que não existe “preparação” certa, para evitar a morte. Quando o médico manda o paciente evitar de comer gordura, fritura, sal, açúcar, deixar de beber, de fumar; procurar fazer exercícios etc, ele está fazendo isso para que a pessoa viva com saúde e evite as doenças. Quando ele fala que se a pessoa continuar fazendo uso dessas coisas irá morrer logo, eu acho que ele só esta querendo assustar. Acredito que a morte só leva alguém, quando chega o dia da pessoa. Se fosse assim, todas as pessoas que malham e que se cuidam, só morreriam bem idosos. Mas não é o que a vida nos mostra.

Vejam como só morre quem tem que morrer: quantos acidentes você já ouviu falar que, entre várias pessoas, só uma ou duas ficaram vivas? Uma vez eu li (isso já faz tempo) que um avião havia caído em um lugar, e o único sobrevivente foi um bebê... Como pode? O caso do cantor Herbert Viana é um bom exemplo.

Tem gente que come tanta “porcaria” que faz mal à saúde, e não sente nada... Às vezes morre de velho. Tem gente que bebe, fuma... Pinta os canecos, e só vai morrer depois de velho. Aí vão dizer: é uma questão de genética. Recentemente um médico, de 51 anos, morreu vítima de infarto fulminante. Como eu não entendo de medicina, eu pergunto: para ele ter esse infarto fulminante, ele já deveria apresentar qualquer sintoma que indicasse essa possibilidade, não é verdade? O cara era presidente do Sindicato dos Médicos. Não é possível que ele não soubesse qualquer coisa, a respeito dele mesmo. Segundo estou lendo aqui no jornal, ele mesmo entrou em contato com a SAMU, quando se sentiu mal. E quando estava sendo encaminhado a um hospital, teve duas paradas cardíacas.

Se fosse uma pessoa qualquer, talvez até os parentes ficassem culpando os médicos do SAMU, pela morte. Dizendo que eles demoraram, que eles foram negligentes, etc. As pessoas sempre querem um culpado para a morte de alguém. E a morte, como não é besta, procura sempre uma desculpa pra dizer que a pessoa morreu por causa disso e daquilo, não porque chegou o dia dela (da pessoa) partir.

A.J. Cardiais
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Poeta

Crónicas :  Crônica policial
Infelizmente (para desabafar) tenho que escrever esta crônica policial. Acabo de ver na televisão que dois jovens, filhos de militares, foram presos por cometerem assaltos. Um filho de um militar da Aeronáutica e o outro do Corpo de Bombeiros. Como eu estou evitando assistir esses telejornais sensacionalistas, não preocupei-me em ouvir os detalhes para descrevê-los agora. Mas essa coisa ficou martelando, me incomodando, e o jeito de tentar livrar-me foi esse: escrever esta crônica.

Esse não é o primeiro caso de filhos de autoridades cometendo atos contra a sociedade. Se for enumerar, já aconteceram centenas. Mas, de quem é a culpa? Será dos pais, que criaram os filhos mostrando-lhes que eles são filhos de autoridades, e podem fazer o que bem quiserem que não vai dar em nada? Será que os filhos cometem esses abusos porque viram os pais cometerem? Não! A causa fica difícil de explicar.

Uma vez (já faz tempo) eu vi um delegado de policia IMPLORANDO, na televisão, que o filho se entregasse à polícia. Imaginem a dor desse pai, um delegado respeitado, condecorado, ver o filho tornar-se um marginal... Resultado: O filho não se entregou, e acabou sendo morto em confronto com a polícia. Será que ele queria isso para o filho?

Talvez a culpa de tudo isso esteja na Justiça, pois esta obedece a Leis antigas. Leis do tempo em que os marginais tinham um “código de ética”: respeitavam a polícia. Leis do tempo em que a bandidagem não era tão violenta, como hoje, e chegava ser até “romântica”. Quando você ouve, lê ou assiste histórias de Madame Satã, Bandido da Luz Vermelha e outros, você sente que eles tinham um certo “respeito” pelo ser humano. Eles queriam ser temidos, respeitados, admirados, mas não é como hoje, que os caras se sentem Deuses. Outra coisa: os marginais de antigamente não faziam fortuna causando a destruição dos seres humanos. Os que “conseguiam” alguma coisa à mais, eram os assaltantes de bancos etc. Os outros só queriam uma vida fácil. Era um “descuido” aqui, uma trapaça ali... Acho que não pensavam em enriquecer. Se eu for ficar comparando as diferenças, vou encher a página.

Voltando para o prato principal: eu acho que a culpa de tudo isso é da Justiça, porque fica legislando com Leis antigas. Essa Lei do menor de idade já deveria ter sido revista. Tem meninos de dez anos, mirrados, franzinos, mas que manejam uma arma de fogo com mais agilidade do que muitos adultos. E os traficantes se aproveitam disso: da impunidade por ser menor, e usam os “pequenos” para fazerem os “trabalhos” dos grandes. Todo mundo está vendo isso. Será que a Justiça é tão cega, que é a única que não está vendo?

Outra coisa são esses indultos. Para que soltar marginal, porque é dia dos pais, sexta feira santa, natal... É soltando, e eles cometendo as mesmas coisas que os colocaram no xadrez. E a maioria não retorna... É só para dar trabalho aos policiais, de terem que prendê-los outra vez. Quer dizer: parece que a Justiça não gosta da Polícia. Às vezes o policial dá um duro danado para prender um marginal, mas a Justiça olha para o marginal, (como ela é cega) não enxerga nada de mais, e solta o meliante... E aí, você me diz o quê? Olhe, eu vou ficando por aqui. Se eu deixar minha indignação ir em frente, esse texto ficará enorme.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Uma pessoa educada
As pessoas abusam da palavra EDUCAÇÃO, sem terem a “educação” de reparar que ela significa muito mais do que aparenta. Aí misturam educação com grau de instrução e com cultura. Uma pessoa pode ser pós graduada em um monte de coisas, mas não ter nenhuma em educação. Uma pessoa pode ser culta, pode saber sobre tudo, mas não saber nada sobre educação. E, ao contrário, pode ser analfabeta “de pai e mãe”, mas ser super educada.

Para mim, EDUCAÇÃO não é só conhecer as regras de bom comportamento; não é só saber usar os códigos de acesso: bom dia, boa tarde, boa noite, dá licença, por favor, obrigado etc. Uma pessoa EDUCADA, é muito mais do que isso. Tem gente que chega em um lugar, e dá um “bom dia” tão frio, que é como se tivesse chegado um “iceberg”. Tem gente que diz um “por favor” tão autoritário, que a pessoa se sente na obrigação de atender. Tem gente que diz um “obrigado” tão obrigado, que a pessoa não sabe se ajudou ou atrapalhou...

Uma pessoa educada “por natureza” ou “de alma”, diz bom dia com um sorriso, um muito obrigado com um olhar, pede licença pondo a mão no ombro da pessoa e esta, instintivamente, cede a passagem, porque sente a mão educada que a tocou ... Às vezes, sem pronunciar uma palavra. Uma pessoa educada respeita o próximo, até quando o próximo é “mal educado”. Ela nunca procura “descer” para se igualar.

EDUCAÇÃO quer dizer: respeitar a tudo e a todos. Respeitar os códigos de trânsito, as filas, as diversas culturas, a natureza, as pessoas, os credos religiosos, as etnias... Enfim, uma pessoa educada sabe entrar e sair de qualquer lugar, sem “fazer feio”. Sabe agradar sem ser falsa e sabe se impor sem oprimir e sem humilhar ninguém. Uma pessoa educada tem a sensibilidade de saber o que o momento exige.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  A internet e os amigos
A internet não é humana. E se não é humana, ela não tem sentimentos para saber o verdadeiro significado da palavra amigo. Se bem que tem muitos “humanos” que também não sabem. Mas a internet não tem culpa se os humanos que a utiliza, seguem sua “filosofia” do que é amizade. Muito já se falou sobre o amigo. Já gastaram muita metáfora tentando explicar o que significa um verdadeiro amigo. É igual a tentar explicar o que é uma mãe. O que é ser mãe? Cada um terá a sua versão. O que é ser amigo? Cada um terá a sua versão. Quem só pensa em dinheiro, dirá que amigo é aquele que sempre lhe tira do “sufoco”, sem cobrar juros. Quem só pensa em farra, dirá que amigo é aquele que está com você em todas as “paradas”. Quem só pensa em beber, dirá que amigo é aquele que não lhe nega um copo de bebida... E por aí vai.

Mas falando da internet, as pessoas se deixam levar pelas redes sociais e perdem a noção do verdadeiro significado da palavra amigo. Já disse Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar, do esquerdo do peito”. Será que a internet “pensa” nisso quando procura “aproximar” as pessoas? Talvez até a intenção dela seja boa. Eu é que não estou acompanhando o “raciocínio moderno”, com minha mente atrasada. A juventude já não namora: fica. Hoje tudo é descartável. Ninguém tem apego a nada... Então fico eu, com minha mente atrasada, querendo interferir no “progresso”.

Teve uma pessoa que criou uma comunidade, dizendo que queria fazer um milhão de amigos. Essa, com certeza, é uma fã do rei Roberto Carlos, morou?
Eu sei que não é impossível algum sentimento “invadir” a internet, e “atingir” um coração lá no norte ou no sul... Isso já aconteceu, e muito. Na verdade eu queria falar de uma coisa, mas entrei por outra e fiquei perdido. Como eu não consegui encontrar o caminho de volta, vou ficando por aqui mesmo. FIM.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Escrevendo para as paredes
Fico procurando sobre o que escrever... Assunto é o que não falta. Mas acontece que eu tenho uma maldita preocupação, com o futuro deste país. Não se espante porque eu chamei de maldita, porque é maldita, sim. Se é algo que me incomoda! E o que nos incomoda, só pode ser maldito. Quando eu vejo um bando de políticos corruptos, usurários, desumanos, “tomando conta” do país, e outro bando que se diz “politizado”, só esperando a oportunidade de se dar bem, eu fico injuriado e tento alertar o pobre do povo.

O povo... Mas que povo? O povo não gosta de política, o povo não gosta de ler, o povo só quer se entreter e esquecer da vida dura ou da vida de duro. O povo já se entregou e acha que não pode fazer nada...
Quando eu vejo esses jovens idolatrando celebridades que só estão preocupadas com o glamour, com os holofotes, as capas de revistas, mas não dizem uma palavrinha sobre o futuro desses jovens, sobre o futuro do Brasil, eu fico injuriado. Essas celebridades podem até dizer que ajudam obras assistenciais, mas isso não muda nada... As obras assistenciais não assistem a todo mundo. Eu quero ver elas fazerem como os artistas da minha geração: Chico, Caetano, Gil, Vandré, Glauber... Eu quero ver elas mostrarem a cara e falarem para o povão: Está tudo errado, vamos mudar essa situação. Não é esse o Brasil que nós queremos. Mas elas não vão fazer isso... Estão todas ricas, milionárias, de bem com a vida. Elas não vão procurar se indispor com os políticos... É a política da boa vizinhança: rico não incomoda rico.

Falando em se indispor com os políticos, eu vi o que aconteceu com o cantor Luis Caldas, aqui na Bahia, porque ficou contra ACM(avô): ele foi condenado ao ostracismo. Se ele não tivesse talento e o reconhecimento dos colegas, teria “sucumbido”. Aí eu pergunto: que “democracia” é essa? E não se enganem não, porque filhos e netos de tubarões são tubarõezinhos. E o povo fica alimentado essas “ferinhas”, na esperança de que elas façam do Brasil um “mar de rosas”. Se elas fizerem do Brasil um “mar de rosas”, elas vão comer o que? Apesar de comerem tudo que encontra pela frente, as rosas não servem para alimentar tubarões. E onde tem tubarões, o mar só fica é vermelho.

O título: Escrevendo para as paredes, é uma analogia ao que as pessoas dizem quando alguém está falando, e ninguém está escutando: falando com as paredes.

Bem, vou postar assim mesmo porque, cada vez que eu leio para ver se tem alguma coisa errada, acabo acrescentado ou tirando “coisas” e talvez até errando mais.

A.J. Cardiais
06.01.2012
Poeta

Crónicas :  Be bop no samba
“Só ponho be bop no meu samba, quando Tio Sam pegar no tamborim. Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba, quando ele entender que o samba não é rumba. Aí eu vou misturar Miami com Copacabana” ¹.

Eu tenho a impressão que os compositores Gordurinha e Almira Castilho fizeram essa música por causa da invasão das músicas norte americanas no Brasil. Mas o fato é que ela se encaixa bem com essa tal de “globalização”. Que globalização é essa, que um lado só tem que “absorver” a cultura do outro? A “globalização” é fazer o mundo todo falar inglês, é isso?

Segundo o meu pouco conhecimento, os países que falam inglês (como uma segunda língua) têm algum “motivo” para tal. O Japão já foi ocupado pelos Estados Unidos, durante a segunda guerra. Outros foram colônias etc. Então eles tiveram um “motivo” a mais para aprenderem o inglês. Nós, brasileiros, não temos motivo nenhum. A não ser algumas pessoas que sonham em ser “internacionais”.

Uma vez eu fiquei sabendo que se algum brasileiro montasse um restaurante lá, nos Estados Unidos, ele não podia colocar o nome do prato em português. Ele tinha que fazer uma “tradução” do que era o prato. Se isso foi verdade eu não sei. Mas supondo que tenha sido verdade (e é bem capaz), isso é o que? É uma valorização do seu idioma, é uma defesa. Já aqui nós engolimos hot dog, hamburger... sem ninguém se preocupar. Se não estou enganado, foi Camões quem disse: "Minha pátria, minha língua". E é isso mesmo. Vocês reparem na História, que todos os povos dominados foram obrigados a falar a língua do dominador. Com isso, eles perdem a identidade, perdem a origem, perdem a cultura... E só vai perdendo até não saber quem é e o que significa no cenário mundial.

O pouco que eu sei do inglês, foi por ser disciplina obrigatória no currículo escolar. Fora isto, nunca me aventurei a aprender além. Procuro descobrir algumas coisas mais porque, infelizmente, os aparelhos eletrodomésticos daqui, são fabricados com os nomes em inglês. Por quê isto? Será que nós estamos exportando eletrodomésticos? Eu acho uma vergonha nós ficarmos usando termos estrangeiros para “valorizar” as coisas. Por quê utilizar as palavras deles, se nós temos uma similar? O certo é em Portugal: lá eles chamam o mouse de ratinho. Aí nós ficamos aqui, feito uns abestalhados, abusando dos play graund (é assim mesmo que se escreve?) e dos room, room da vida. Pois é, eu só valorizo o inglês deles, quando eles valorizarem o meu português. A maioria deles nem sabe onde fica o Brasil! E somos americanos, hem!

Disse Olavo Bilac: “O Brasil será uma das maiores, uma das mais formidáveis nações do mundo, quando todos os Brasileiros tiverem a consciência de ser Brasileiros”.

“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor” ². Assis Valente.

¹ Chiclete Com Banana – Gordurinha e Almira Castilho
Escute aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ni6d2oxrsmI

² Brasil Pandeiro – Assis Valente
Escute aqui: https://www.letras.mus.br/os-novos-baianos/122199/

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Advogado de bandido
O advogado que defende bandido perigoso, deveria ganhar o repúdio da sociedade. Não importa que seja a profissão dele defender o seu cliente. Mas ele, como ser humano, (será que é?) tem consciência do perigo que é deixar à solta certos indivíduos.

Quando ele briga na Justiça para libertar o cliente dele, está brigando contra a sociedade. Afinal ele está querendo libertar alguém, que é nocivo à população.

Todos os advogados que são chamados para defender esses bandidos, são considerados bons. Então, se eles são bons advogados, não estão passando fome, para justificar tal atitude. Mas o orgulho em defender, em vencer, é bem maior...
Então ele vai pelo desafio ou pela ambição mesmo.

Será que algum advogado se arrepende de ter libertado algum bandido perigoso? Não, eu acho que não... Se fosse para se arrepender, ele não defenderia o bandido.

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  O poeta amador
Quem está aprendendo alguma coisa, deve ser chamado de aprendiz ou iniciante, não de amador. Amador é quem faz algo por amor. Às vezes a diferença entre amador e profissional é só porque um faz por amor e o outro faz por dinheiro. Então o amador deveria ser mais valorizado, porque tem muitos “profissionais” que trabalham sem amor nenhum à profissão. Infelizmente o que faz alguém ser chamado de “profissional” é só porque sobrevive daquilo.

Quantos escritores podem ser considerados profissionais? Poucos, não é? Uma vez eu li um escritor dizendo que o único escritor no Brasil, que vivia só de livros, era Jorge Amado. Isso naquela época, porque agora tem o Paulo Coelho e deve ter mais meia dúzia.

O que faz um escritor ser considerado profissional? É só publicar um livro? É publicar um livro, e fazer parte da Academia Brasileira de Letras?
No tempo de Drummond, Bandeira etc, quando a poesia era mais “consumida”, todos os poetas sobreviviam como cronistas de jornais ou trabalhando com outras coisas. Nunca li algo dizendo que eles sobrevivessem de literatura. Será que eles eram considerados amadores, na época?

Vender livros hoje em dia está muito difícil. Além do povo não ser muito chegado à leitura, os livros estão muito caros e o povo não tem dinheiro. Como viver de livros? Conheço alguns poetas que se esforçam para publicar um livro, e depois saem vendendo de bar em bar... Tem muita gente que compra, só por comprar. Quando chega em casa joga o livro em um canto ou fica usando para guardar contas.

Uma vez eu encontrei uma amiga, que eu sabia não ter a menor simpatia com poesia, com o livro de um poeta (conhecido meu) nas mãos. Aí eu falei: eu conheço esse poeta, nós já participamos de um grupo. Onde você comprou? Ela respondeu: eu estava em um bar com o meu namorado, aí ele chegou, perguntou os nossos nomes, escreveu no livro e: dez reais. Eu ia até perguntar se ele te conhecia, mas desisti. Então eu falei: poxa menina, deveria ter perguntado. Eu queria saber o que ele iria dizer... Depois você me empresta esse livro? Ela prontamente tirou dois recibos de dentro do livro e perguntou-me se eu queria uma revistinha que estava em minha mão. Entreguei-lhe a revistinha, ela botou os recibos dentro e entregou-me o livro dizendo: tome, fique.

Aí eu pergunto: quantas pessoas ele vendeu o livro, e fez essa mesma coisa, ou pior? Esse pelo menos veio parar nas minhas mãos, e está guardado. Mas quantos já se acabaram sem ninguém dar uma “olhadinha”? E o poeta chega em casa, achando que as tantas pessoas que compraram o livro dele, estão conhecendo o seu trabalho...
Será que vale a pena fazer isso?

A.J. Cardiais
Poeta

Crónicas :  Escrever e coçar...
Escrever e coçar...
Tem uma peça de teatro cujo nome é: Trair e coçar é só começar. Bem que eu gostaria que isso acontecesse com a escrita. Assim ó: Escrever e coçar, é só começar. Se bem que tem pessoas que a “coisa” acontece assim mesmo: começam a escrever, terminam. Comigo não... Eu sofro influências de várias maneiras. Se alguma coisa, ou alguém, interromper meu raciocínio, eu tenho que largar a escrita. E, às vezes, não adianta tentar recomeçar depois. Se eu tiver escrevendo alguma coisa com o rádio ligado, e tocar alguma música que eu gosto, quase sempre entra alguma coisa da música no texto. Eu preciso chegar com o texto praticamente pronto (na cabeça) para sentar e digitar. Caso contrário, ficar esperando que as palavras cheguem ou que o vento me sopre alguma coisa, a influência "cai matando".

Este texto mesmo, já estava todo engatilhado para ser escrito... Mal eu me sentei para digitá-lo, meu filho entra no quarto me pedindo dinheiro. Pedir dinheiro a quem está duro, é dureza. E quando você diz que não tem, e a pessoa fica insistindo, é pior ainda. Como é que eu posso ter estrutura para escrever alguma coisa que preste? Ainda bem que eu não escrevo por obrigação, como os cronistas dos jornais. Já li vários deles colocando esta situação nas crônicas: a de ter que improvisar. Isso é bom porque se transforma em um exercício. Mas não é a mesma coisa que “largar a alma” na escrita.

Mario de Andrade dizia que a crônica para ele era uma válvula de escape. Era quando ele se distraia com a escrita, porque não tinha tantas preocupações com as normas, como nos outros tipos de textos.
É justamente por esta “liberdade” que eu gosto da crônica. Ela não nos cobra nada a não ser soltar a imaginação e escrever. Apesar das interrupções (não foi uma só), dos olhares vagos no tempo, das buscas à ideia principal, eu consegui escrever alguma coisa. Talvez até eu possa dizer agora que: "Escrever e coçar, é só começar".

A.J. Cardiais
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