Sonetos :  Indisciplinado e livre
Indisciplinado e livre
O meu maior pecado
é não ser disciplinado...
Não gosto de seguir
nenhum caminho marcado.

Quando sou forçado,
sigo até onde aguento...
Quando não dá, arrebento
e sigo o caminho do vento.

Nem acorrentado estou preso.
Meu sonho, meu pensamento,
satisfazem meu desejo.

Minha poesia é o momento.
Tudo que eu sinto ou vejo,
transforma-se em alimento.

A.J. Cardiais
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Poeta

Sonetos :  Para gregos e troianos
Eu não arredo o pé
de protestar na poesia,
enquanto a ralé
comer tanta hipocrisia.

Aproveito-me dos versos
e faço meus protestos.
Uns dizem que não presto,
outros me acham honesto.

Mas uma coisa é dita:
uma poesia bonita,
não pode ser manifesto.

Tem que ser de utopia
para agradar a Academia
e enganar o resto.

A.J. Cardiais
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Poeta

Poemas :  Poetas para quê? - II
Poetas para quê? - II
Poeta para quê?
Para poetar a vida?
Mas o povo não quer saber
de poesia.
O povo quer é viver
na folia.

Para o povo a vida não é poesia...
A vida é uma correria
atrás do pão de cada dia.
E quem ganhou pão demais,
agora quer mordomia
e nem olha pra trás,
para não ver a agonia.

“Viver e não ter a vergonha
de ser feliz"...(¹)
Quem me diz
onde está a felicidade?

Está no medo do covarde,
que foge da realidade?
Está na coragem do valente,
que enfrenta o batente
com honestidade?

E o poeta faz o quê?
Está no mundo da lua,
ou está no meio da rua
tentando esclarecer?

“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução".(²)

¹ Gonzaguinha – O Que é, O Que é?
² Carlos Drummond de Andrade -
Poema de Sete Faces

A.J. Cardiais
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Poeta

Poemas :  O equilibrador de palavras
O equilibrador de palavras
Não sei "destrinchar um poema",
como os teóricos fazem.

Também não sei "montar um poema",
como eles montam.

Eu só sei equilibrar
pedras sobre palavras,
e palavras sobre sentimentos.

Formando uma falsa alvenaria,
que eu ouso dizer
que é poesia.

A.J. Cardiais
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Poeta

Poemas :  Vagar, vagar - II
Vagar, vagar - II
A manhã transcorre em poesia...
Não quero uma alvenaria
de palavras me cercando.
Quero meu pensamento solto...

Voando nas asas
do acontecimento.
Eu quero o momento
de uma rima qualquer.

Rimar homem ou mulher...
Rimar tudo que vier...
Eu quero ver o dia
saltitante de alegria,
com a brincadeira do sol.

A.J. Cardiais
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Poeta

Poemas :  Vagar, Vagar - I
Vagar, Vagar - I
Vou falar de coisas amenas.
Deixar o peso e a podridão
da política de lado.
Vou falar deste sol frio
e que agora senti um arrepio.

Falar dos meus olhos,
que vagam como ondas
procurando algo
que me responda
em poesia.

Falar deste dia.
Maravilhoso dia...
Não está como eu gostaria,
e nunca vai estar.
A gente só sabe reclamar.

Falar do sol batendo
nas casas,
e elas apanhando
caladas,
como que escravizadas...

Estou adorando vagar...
Esta falta de
responsabilidade,
é um bom lugar.

A.J. Cardiais
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Poeta

Sonetos :  Salgando o mar literário
Salgando o mar literário
A minha poesia
vai carregando o sal
e salgando mais
este mar literário.

Ela não tem itinerário:
Vai fazendo suas caminhadas
aleatórias pelas picadas,
evitando o saber sedentário.

Vai invadindo as florestas,
fugindo das estradas
e tropeçando nas letras.

Quando olha pelas frestas,
as ideias escravizadas,
tenta deixa-las libertas.

A.J. Cardiais
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Poeta

Sonetos :  Quando você sai
Quando você sai,
é como apagar a luz,
ou como desligar o som:
eu fico sem.

Sou uma garrafa
atirada no mar:
fico à deriva,
à mercê da correnteza.

Quando você sai,
minha poesia chora,
cai chuva lá fora,

O relógio perde a hora,
o dia pra passar demora...
Depois que você vai.

A.J. Cardiais
Poeta

Poemas :  Varando a madrugada
Está clareando o dia...
Fiquei quase a noite toda
acordado.

De vez em quando a poesia
deitava-se ao meu lado
e contava coisas picantes,
para me deixar agitado.

A poesia não sacia
sua sede,
enquanto a minha rede
estiver esticada...

Quando ela me pega de jeito,
nós varamos a madrugada.

A.J. Cardiais
Poeta

Poemas :  Poema suado
Poema suado
Estou num deserto de inspiração...
Nada passa por aqui,
nem ladrão.
Ele vai roubar o quê?
Sei não... Sei não...

Lá fora, falta imaginação.
Uma pessoa agoura,
tirando minha concentração.
Eu tenho cabeça para quê?
Sei lá! Pra pensar.
Mas a preocupação,
tira a poesia do ar.

Faço um poema sem emoção,
somente para pirraçar...
Talvez forçando a barra,
eu consiga me inspirar.

Mas os “teóricos” dizem,
que inspiração não existe.
Então eu vou transpirar...
Vou suar um poema triste.

A.J. Cardiais
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Poeta