Poemas de desilusión :  LÁ, EU ERA FELIZ
Quando nasci, já era um sem abrigo.
Apareci cá fora todo nu, todo sujo,
Sem dentes nem cabelo, um velho.
Todo enrugado, não via, e chorava.
Pois que alguém de maus instintos,
Deu-me duas palmadas no rabo.
Chorava da minha pouca sorte
Aparecer no mundo para meter o bodelho.
Alguém teve pena de mim
E com carinho me levou para o banho.
Outra pessoa bondosa, me trouxe roupa.
Mas cabelos e dentes... nada!
Nada havia à minha medida.
Outra veio depois para me dar a comer,
A beber... a beber leite nada de sólido,
Devido à minha fraqueza, era perigoso.
Deram-me guarida e lá fui vivendo
E mudei muito, podem crer!
Engordei, era mais pesado, e maior,
É giro, não é? Como podemos mudar
Se nos tratam bem e é importante,
Se nos respeitam como somos,
Sentimo-nos alguém.
Comecei a ver e tudo era lindo.
As pessoas que me rodeavam
As pessoas que me acarinhavam
As cores variadas das flores,
O perfume que elas exalavam.
Diziam-me que eu era bonito,
Que era parecido com o meu pai.
Ah... não! Ele parece-se com a mãe!
Eu ouvia tudo isto e era feliz.
Com o tempo vi que fui enganado
Nada era lindo, As flores murcharam
O perfume, ai o perfume... desapareceu.
Não havia sinceridade, mas hipocrisia.
Que não havia paz mas sim guerras.
Que muitos tinham voltado
Para a mesma maneira de viver
Como eu vivi, eram sem abrigo,
Sem higiene, sem nada para comer,
Sem casa para viver, sem felicidade.
Não, não quero viver num mundo assim
Deixei-me voltar para donde eu vim,
Lá, eu era feliz!

A. da fonseca


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Poeta