Frases y pensamientos :  Serei só eu? - II
No tempo tudo fica, no tempo tudo se esquece e é normal, porque a fronteira que sempre impus a mim mesma do respeito pelos outros impediu-me de ser hoje uma pessoa feliz. Abençoado seja quem mesmo que por instantes, me alegrou a alma e me fez sonhar. Gostaria muito de voltar atrás. Impossível. Peço a Deus que antes de terminar o tempo da minha passagem pela terra me dê a alegria de poder sentir que sou um ser humano, de falar de sentimentos, de amor e se possível de mão dada ao pôr-do-sol.
Oh Deus, tenho consciência de que não fui cem por cento boa, pura no sentido de palavras, de não ter dado a amizade que algumas pessoas deviam ter. Talvez tivesse intercalado bons e maus pensamentos. Mas será tão grande o crime para ter prisão perpétua?
E assim se perde a oportunidade da felicidade. Não choro da dor física, que tive bastante e grande desde muito nova, isso já passou, choro porque ninguém quis o carinho que tanto desejei dar. Gostava de ter experimentado ser amada suavemente, de estar com alguém em que o seu olhar falasse como o meu numa comunhão de sentimentos, de ter sido a nuvem que passa por cima da montanha sem ela sentir, de ser o nascer do sol calmo, belo e sereno, e que no meu companheiro, nos seus olhos eu visse tudo isto reflectido.
Aos meus pais eu perdoo a falta do seu amor, à vida que não me quis, a alguém que não me viu, a outros que me enganaram…a mim não perdoo. Sei que tive força e tenho para ter feito e fazer melhor.
Há muito que não escrevia e para quem pensa relatar as suas memórias está mal escrito. Oh, mas hoje mais triste e cansada, desiludida e sem a tal esperança que sempre tive tornei a pegar na caneta. Infelizmente hoje estou pior do que quando comecei a escrever. Todo o amargo, o quase ódio que sentia como ferida aberta na carne fechou, mas só por fora.
Mas entretanto vou escrevendo sem ordem temporal que preencheu os dias que vivi.
Tenho saudades de mim; graças a Deus que os meus pais nunca souberam os perigos que corri, na quinta fiz tudo. Desde andar pelos telhados até quase afogar-me num tanque que era tapado e tinha que descer por uma escada escorregadia.
Trepava às árvores, enfim, era selvagem mas feliz, com os meus cães e gatos. Fazíamos caçadas às ratazanas. Abria a porta do galinheiro e soltava tudo que lá estava! Cortei erva com a foice, se me apanhava a mão ficava sem ela!
Nunca fiz nada certo. Faltou sempre qualquer coisa.



Na festa de gala para angariar fundos para o instituto de oncologia, além do trabalho que tive na decoração e responsabilidade: fui a Vigo comprar um vestido comprido, era branco e tinha uma ramagem do lado direito. Resolvi levar um forro com receio que fosse translúcido e que ao passar pelas luzes que havia à volta, rentes ao chão, me vissem as pernas! Quando um cantor muito conhecido estava a actuar tive que ir chamar o director do instituto para ir ao telefone. Atravessei o enorme salão (2000 pessoas) e tive que fazer o mesmo na pista de dança. Quando estava no meio, senti qualquer coisa a escorregar por mim abaixo – era o forro!
Parei, baixei-me, esperei, recolhi-o e continuei. Dei o recado ao doutor e voltei para a mesa com o forro embrulhado debaixo do braço, calada até o cantor terminar. Depois contei a aventura à mesa e foi gargalhada geral...não havia necessidade!
Como fazíamos passagem de modelos e vestíamos as misses nos concursos de beleza, tinha que fechar a boutique e levar alguma coisa que faltasse. Era sempre a última a ir. Chovia torrencialmente nesse dia. Claro, estava com o cabelo super arranjado, super bem vestida. Meto-me no carro, ando 50 metros e este começa a perder energia e pára. Como estava muito perto da estação de serviço (era pegada à boutique) saí do carro e fui pedir ajuda. Era a bateria que estava com humidade.
Resultado, a minha elegância, o meu penteado levaram um banho...quando cheguei ao local do desfile, era como se tivesse saído da banheira!
No ano em que o meu cunhado se formou em medicina, houve um baile de gala.
Levei um vestido branco, como a Sissi (princesa austríaca) o penteado muito parecido e era o meu 1º baile de vestido comprido! Tinha 15 anos! Os rapazes todos de smoking, as senhoras muito elegantes brilhavam de tantas jóias. O meu Pai imponente, a minha Mãe muito elegante, assim como os meus irmãos e os pais do meu cunhado. Era tudo uma maravilha, Aquele salão enorme, com tanta gente, não é que me aparece um rapaz, pelos vistos riquíssimo, mas tipo michelin que não me largou a noite toda? Resultado, não dancei com ninguém, como era conhecido da família do meu cunhado, ficava mal se fosse dançar com outro. Havia tantos por onde escolher! E assim ficou a Sissi sentada não no trono, mas, numa cadeira a noite toda!....e sem príncipe.
Pela Páscoa quando era pequena, davam-me sempre um vestido novo. Este era de tafetá aos quadrados, com muita roda e tinha renda de guipour à volta do decote. Atravesso a rua para ir à minha amiga e companheira das brincadeiras, mostrá-lo. Ao sair do portão zás rasguei a saia de cima abaixo. A tia da minha amiga era costureira e arranjou-o pelo menos para não apanhar uma sova no dia de Páscoa.
Num sábado vão-me buscar ao colégio para comprar uns sapatos. Feliz! Segunda-feira a vaidade assim obriga, ponho-os. Eram de camurça, pretos e tinham uma tira por cima do pé…Meio-dia um estava aberto até aos dedos. Como pode? As freiras, penso que com pena, mandaram-no ao sapateiro para que fizesse os possíveis, pelo menos que durassem um mês.
Poeta

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