Poemas :  La voz del sueño
Piense en usted mismo como alguien fuera de usted
experimenta mientras puedas
escucha la voz de tu corazón
el nunca duerme
los pájaros, el sol,
el mar largo y extraño
todos esperan una llamada
en medio de la noche
a través de los sueños
tal vez algún día puedas decir
algo al respecto
así que de vez en cuando
al principio y al final
tu entenderás
que facil es la vida
y nada es imposible ...

No se que decir, todo es solo imaginacion
Poeta

Crónicas :  Encontro entre Edgar Allan Poe e Ernesto Guevara
Encontro entre Edgar Allan Poe e Ernesto Guevara
De uma indignação cultural nasce o encontro entre o escritor americano Edgar Allan Poe e o médico e guerrilheiro argentino Ernesto Guevara. O cenário é Havana na rua Empedrado, na Havana Velha, próxima à La Bodeguita, frequentada pelo escritor Ernest Hemingway durante o período em que viveu em Cuba.

Allan Poe chegou primeiro, olhou em volta e entrou na Taberna Sierra del Corvo. Tirou chapéu e capa, colocou-os em um cabideiro de pé, sentou-se na mesa ao fundo de frente para o balcão. Poe chamou o garçom e pediu um mojito de rum branco e uma porção de chicharrone.

A Taberna estava vazia, em um velho rádio ouvia-se Cachao Lopez tocando Mambo. A música, que tem um solo de flauta envolvente, deixou Poe animado e ele escreveu em um guardanapo: Os movimentos sonoros dessa música balançam a caveira quente do diabo.

Um Jeep estacionou na porta da Taberna, um jovem de cabelos longos, pele morena, barbudo e usando uma boina desceu e entrou. O rapaz com aparência rude retirou do bolso um charuto, acendeu e olhou em volta. Percebeu a presença de Poe ao fundo e se aproximou: - O senhor é Edgar Allan Poe, certo?

Allan Poe disse que sim e pediu que Guevara se sentasse: - Por favor, comandante! Apontando a cadeira. Ernesto pediu uma dose dupla de rum puro. Por alguns segundos se entreolharam, a aparência soturna e pálida de Poe contrastava com o despojamento natural e o viço de Guevara. Poe parecia mais velho, porém tinham praticamente a mesma idade, Poe tinha um ano a mais que Guevara.

O assunto girou em torno da contracultura que eles representavam dentro de suas características e épocas. Guevara era um revolucionário marxista, escritor, diplomata, autor de frases eternizadas como “hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”. O ocidente capitalista teve de engolir o símbolo que sua figura representa, a rebeldia revolucionária que se tornou um signo global de engajamento da cultura popular.

Allan Poe chegou a pertencer à uma Academia militar, mas sua falta de disciplina e desobediência, causaram sua expulsão. A morte de sua esposa o levou ao consumo excessivo de álcool. Considerado gótico, Poe fez sucesso escrevendo sobre a morte, os sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, pessoas enterradas vivas e reanimação de mortos. O poema The Raven, o mais conhecido, narra a angustiante busca de respostas da vida em relação à morte.

As doses de rum molhavam as palavras e o entusiasmo daquelas duas insígnias da história, dois monumentos da contracultura, foi quando Poe começou a sentir os antigos sintomas do delirium tremens.

Partiram dali e fizeram uma breve passagem na La Bodeguita, tomaram a saideira com Pablo Neruda e Salvador Allende, que também frequentavam o lugar. Antes da despedida Allan Poe escreveu na parede: "Lord, please, help my poor soul", ao lado do quadro com a célebre frase de Hemingway: “My mojito in La Bodeguita, my daiquiri in La Floridita".

Guevara e Poe, duas figuras extraordinárias e extemporâneas em um tempo equidistante entre La Higuera e Baltimore, incompreendidas e desconhecidas pela anticultura prevalecente nos dias de hoje, mas que foram unidas pela indignação cultural de um poeta sentado no beiral da janela do tempo, sem boina e sem chapéu, sem capa e sem charuto, mas com a ternura revolucionária e a verve poética de quem afunda o chicharrone no rum antes de comer.


Ricardo Mezavila
Poeta