Sonetos :  Imagem poética
A poesia não se pinta,
a poesia não se escreve,
a poesia não serve
de saída ou de consolo.

A poesia é crime de dolo...
É tudo premeditação.
Ela é a união
de tudo que há neste bolo.

Neste bolo terrestre,
neste bolo agreste,
neste bolo selvagem...

A poesia é educada,
mas gosta de ser dominada
para mostrar sua imagem.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Sonetos :  Perto de você
Perto de você
Perto de você
o momento é eterno...
Eu não me governo
e nem tento entender.

Perto de você
eu estou no paraíso.
E de nada mais preciso
a não ser de você.

Perto de você,
eu sou eu, e não sou...
Eu sou só desejos.

Perto de você
eu fui, eu vim, eu vou...
Viajo nos seus beijos.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Sonetos :  Na peleja do desejo
Na peleja do desejo
Se esta mulata sambasse,
talvez me derrotasse.
Talvez me derretesse
e até me fritasse.

Se esta gata me amasse,
talvez eu voasse
e assim vivesse
eternamente no céu.

Mas eu tiro o chapéu
para esta gata,
para esta mulata;

Para esta mulher
que pode fazer
o que quiser...

Me mata!

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Sonetos :  Soneto de amor a arte
Um soneto me bate à porta
numa hora imprópria, errada.
Tentando não perdê-lo por nada,
jogo-o numa rima torta.

Tanta coisa assim me invade
sem “se tocar”. Quem se importa?
Para ele uma hora imprópria, morta,
tanto pode ser cedo como tarde.

De que reclamo
se este é o prêmio
por dizer que o amo?

Tanto faz: hora, dia, ano...
Quando morto: um gênio!
Quando vivo: um insano!

A.J. Cardiais
06.02.1990
Poeta

Sonetos :  Contaminação de palavras
A palavra é uma larva
a espera de alimentação...
Quando o poeta põe a mão,
sua mão é tomada pela palavra.

Aí o poeta lavra a palavra
quando lava a mão
cheia de larvas.
O poeta contamina tudo:

O branco do papel
a imaginação
o sol, o sal, o céu, o chão...

O poeta é só contaminação...
Contaminação de larvas
contaminação de palavras.

A.J. Cardiais
03.12.2010
Poeta

Sonetos :  A vida passando
Estou vendo
um novo dia nascendo...
Estou vendo
o dia clareando...

Muita gente não sabe
o que está acontecendo
pois está dormindo,
está sonhando.

Isto é a vida passando...
Parece que não foi nada,
mas foi um dia que se foi.

Foi pra mais? Foi pra menos?
Isso não importa.
O resultado só vê depois.

A.J. Cardiais
22.10.2010
imagem: google
Poeta

Sonetos :  O paisano
Não tenho emoção controlada.
Não sou parnasiano.
Sou um paisano
de alma abençoada.

Solto na poesia
uma ideia rimada,
porque minha alegria
é assim: ritmada.

Visto-me de soneto,
não para ser perfeito.
Visto-me por admiração.

Adoro esta construção:
quatro, quatro – três, três.
É disso que eu sou “freguês”.

A.J. Cardiais
Poeta

Sonetos :  Vivendo de brisa
Vivendo de brisa
Não consigo mudar...
este defeito
em meu peito
é de fabricação.

Não consigo mudar...
Tenho um coração
que gosta de rimar
contra esta “evolução”.

Eu sou mais de amar,
de sonhar...
Sou do momento.

Amo tanto o vento,
assim como o banqueiro
ama tanto o dinheiro.

A.J. Cardiais
imagem: google
Poeta

Sonetos :  Justiça cega
Ah, como eu gostaria
de escrever só o belo...
Porém o meu martelo
condena a hipocrisia.

Quando vejo a vida vazia
que o povo está levando,
acabo não suportando
e explodindo na poesia.

Esqueço da velha Academia,
esqueço o trato, o contrato...
Deixo tudo para depois.

Aqui, neste retrato,
o sonho é de feijão com arroz
e fome de encher o prato.

A.J. Cardiais
Poeta

Sonetos :  Soneto mortal
Não procuro a morte
e nem corro dela...
Desfilo nesta passarela
apostando na sorte.

Viver é sempre estar
de bem com a sorte.
Independe de ser forte,
para a morte não visitar.

Você precisa lembrar
que ELA não faz diferença:
não olha crença,

nem posição social.
A morte é imparcial:
chegou o fim, é final.

A.J. Cardiais
Poeta