|
A palavra é uma larva à espera de alimentação... Quando o poeta põe a mão, ela é tomada pela palavra.
Aí o poeta lavra a palavra. Quando lava a mão, cheia de larvas, o poeta contamina tudo:
O branco do papel, a imaginação, o sol, o sal, o céu, o chão...
O poeta é só contaminação... Contaminação de larvas, contaminação de palavras.
A.J. Cardiais 03.12.2010 imagem: google
|
Poeta
|
|
Estou deitado na cama lendo um livro de Waly Salomão, enquanto o sol me queima sem comiseração.
O sol invade a janela, invade meu coração, invade eu, invade ela... Comete o fenômeno da invasão.
Então eu asso um soneto, enfiado num espeto, pra saciar a fome de poetar...
Se Waly me deu assunto, pego as palavras e junto, tentando me comunicar.
A.J. Cardiais 28.07.2015 imagem: google
|
Poeta
|
|
Ele sabe aplicar injeção de metáforas. Quando ele benze as palavras, as ideias acordam cheias de asas.
Ele reza as poesias e elas voam, como sinfonias, para os olhos do absurdo.
Ele rima os astros usando palavras ostras, e tira pérolas das pedras.
A.J. Cardiais 14.07.2015 imagem: google (Manoel de Barros)
|
Poeta
|
|
Está difícil extrair ouro das palavras... Está difícil garimpar... É preciso quebrar blocos de ideias. É preciso imaginar.
Demarcar o veio em que se vai trabalhar, e começar a cavar ideias... Até achar um filão.
Mas, muita atenção, pois o ouro está misturado ao cascalho... É ouro em pó. Tem que ser muito bem trabalhado.
Imaginem o monte de letras que alguém tem que cavar para encontrar as palavras, extrair o ouro e transformá-lo em um texto.
A.J. Cardiais 17.12.2010 imagem: google
|
Poeta
|
|
Quando uma ideia vem à tona, as palavras me condicionam. E eu, acuado, sou obrigado a devanear...
Sem imaginar no que vai dar .
A.J. Cardiais 09.06.2014 imagem: google
|
Poeta
|
|
Deturpadas palavras más, que os dicionários vão engolir. Os poemas supérfluos hão de exibir todas as palavras. Mas...
O abdômen, inimigo do homem, e a barriga, aquela nossa amiga, estão na maior briga por causa de um nome.
O nome: substantivo desconhecido, de pai e mãe abstratos. Muitos nomes, muitos retratos de fome e de povo subdesenvolvido.
Nome feio equivale a palavrão: paralelepípedo, inverossimilhança... Mas, nome feio para a criança, é aquele que não se pode dar não.
Então eu grito: Rimas! Rimas à mão cheia! E as mãos: cheias de calos. Brigo, xingo, ofendo os cavalos... Sou louco... Sou louco não, creia.
A.J. Cardiais 06.02.1990 imagem: google
|
Poeta
|
|
Quero citar teu nome num poema. Quero ouvir tua voz. Quero deixar desabrochar em mim, algo que espero que exista entre nós:
Um acordo, um pacto, um entretenimento de amor. Dissertando palavras fáceis, fui ao mundo...
Subi em sílabas etc. Curvei bugalhos, olhares equidistantes... Os holofotes em mim, talvez te indiquem o caminho.
Estou tão sozinho amor, que as frases me atropelam volúveis. Mudo, quieto, espinho... O teu nome em mim é pátria. Citá-lo-ei breve, num poema.
A.J. Cardiais 17.01.1990 imagem: google
|
Poeta
|
|
Eu juro que é um "enduro", pilotar palavras em terreno acidentado.
A poesia não alivia a dor do poeta, coitado, que vive sonhando acordado.
A poesia não sacia a fome dos necessitados, nem a sede de justiça dos injustiçados.
A poesia, quando muito, denuncia.
A.J. Cardiais 02.06.2011
|
Poeta
|
|
A palavra quando sai de circulação, fica existindo só no dicionário. Quando o poeta operário, coloca a palavra em sua construção, ela vai de mão em mão...
Sofrendo desgastes, sofrendo manipulações através dos tempos e das declamações.
A.J. Cardiais 04.08.2011
|
Poeta
|
|
Não consigo fabricar palavras... As que eu uso, são postas em minha boca, já com o sabor da coisa.
Sou a poesia solta, seguindo as folhas que o vento leva, só para brincar... Sou a imagem das folhas ao vento. Sou este divertimento.
A.J. Cardiais 06.01.2011
|
Poeta
|
|