Poemas de desilusión :  FALÉSIAS
FALÉSIAS
Dirceu Rabelo

Não prometa ficar
Não jure me amar
Eternamente
Não tente me confundir
Com suas juras
Não me fira
Com seus nadas
Devaneios
Desvarios
Incertezas
Lágrimas nesgas
Escarnecidas
Escorregando
Por sua cara
Mentirosa
Como chuva
Rasgando falésias
Turvando o mar
(Não é o que eu quero!)
Almejo a paz
Do beijo sincero
E de cúmplice olhar
Da mão segura – desvelo
Do calor do corpo
Em sexo demorado
Repleto de amor
Apaixonado
Sem cobranças
Único
Começar de novo!

Poeta

Poemas de desilusión :  Monótonas Ruas de Terra

Vento que passa como música
Folhas secas a bailar
Sem destino voam lúcidas
Sem lugar pra descansar;

Neves emprestam um branco
Forram os canteiros de gelo
Tais como um sorriso brando
Perdem-se em minutos de desejo;

Folhas desbotadas pelo chão
Retrato da primavera esquecida
Chuva fina de verão
Refrescam a cidade adormecida;

As luzes se apagam nas praças
Ofusca a beleza do encontro
Meninos chutando lata
Pensamentos em meio aos escombros;

À tardinha invade a tristeza
Deixando a saudade para o dia que vem
Monótonas ruas de terra
Trás a lembrança o rosto de alguém;

A noite cai vestida de medo
Escurece o caminho da estrada
Faz acender no corpo o desejo
E trás a fisionomia do semblante da amada.


Poeta

Poemas de reflexíon :  Sentimentos e Mantimentos

O encanto acabou-se
Acabou-se o encanto
Acabou a farinha
A manteiga e o sossego
Acabou-se!
Mesmo que por enquanto.

Acabou o que chamo de desejar
O que chamo pelo nome
E nem nome tem
E mesmo se tivesse
Não o chamaria
Mesmo que por engano.

Acabou-se o pão, o sabão e a razão...
Acabou que bom
Acabou-se tudo
Nem tudo se acabou
Acabou o que chamo de expirar
Só não acabou
O encanto que ficou por vir.


Poeta

Poemas de desamor :  Chance

Descalço na areia frente ao oceano
A onda vem e molhas os meus pés
E conseqüentemente
Volta para os seios do mar
Por que não posso voltar;
Assim se faz o vento
Vem de onde não se imagina
E vai para onde ninguém determina
Assim sou nessa sua vida;
Preciso apenas uma chance
Pra recomeçar,
Você precisa de um milhão
De motivos pra me aceitar;
A imensidão do mar me deixa muitas dúvidas
Tamanha é a grandeza da sua solidão
Não é diferente no deserto que
Mostra-se no meu coração
Sem você não faz sentido a vida
Preciso apenas uma chance
Pra me encontrar;
Estou perdido nas esquinas
Embriagado neste bar
Pedindo pra voltar;
Existe uma vontade dentro do meu peito
Pedindo pra gritar
Mas o silêncio que descansa nos teus olhos
Impedem-me de falar
Preciso de um instante para respirar
Preciso de uma chance pra recomeçar.



Poeta

Poemas de desilusión :  Peito em Carta

Pensamento que não para quieto
Cria asas imagináveis pra te ver
O tanto que te amo já não sei bem certo
Saudade me invade da vontade de morrer.

Sobrevoa por cidades e arranha-céus
Pensamento louco indomável
Que me apanha pelos ares, farto de visão!
E ao mesmo tempo solitário.

Pensamento que não para; inquieto...
Faz desta minha carne solidão
Teu sangue que escorre em minhas veias
Faz sangrar meu dilacerado coração.

Se lhe enviar o meu peito em carta
Tão farto de tristezas em vão
Tal carteiro se despediria aflito
Conteúdo de uma escrita sem razão.

No outono esperança vira folhas
Bailarinas pelo vento a voar
Amarelas vão doentes em rumores
De mansinho em teu peito aconchegar.

Para os lados de cá amanheceu tão cinza
Pigmentos de um jardim sem flor
Sem você minha alma agoniza
Lágrimas torturadas viram brisas
Arco-íris entardece incolor.

Poeta

Poemas de reflexíon :  Natureza Irônica

Rosas enfurecidas
Uma a uma se desfazem
Imperfeitas a tornam a si
Corpo violentado e sangrado
Carne vegetal em cinzas espalhadas
Na pira que não cessa, exumadas
Logo após em noiva se transforma
Em algoz, lúgubre insensata
Equilibra-se em falso casamento
E rude se apanha num jardim
Fétidas entre outras se destacam
Eis agora um sorriso arrogante
Ironia de quem chega ao inverno são
Pois troca de roupa e de vida
Tão depressa morre
Sorrindo e satisfeita
Mal pode esperar
A ira que a trás novamente.


Poeta

Poemas de desilusión :  Leite Derramado

Sobre o olhar incrédulo e desatento
O leite ferveu, subiu e derramou...
E por quase dois segundos
O fogão não reclamou
É um sujo que se limpa com o pano
Desperdício de alimento, ou engano...
Fruto do organismo mecânico
Ou pensamento;
Talvez se o leite não agisse tão rápido
Contrariando a lei da física
E do calor não derramasse
E a sujeira no fogão espreguiçasse
Não se teria em vão a solução
E os olhos estáticos
Por um momento não fitassem
O que iriam pensar?
É certo de que o pensamento é lento
Quando o leite derramado de besteira
Por ser leite e não pensamento
Não pode retornar a leiteira.



Poeta

Poemas de esperanza :  Rosa de Hiroshima

Estranhas pétalas cinza
De uma rosa estarrecida
Perfume suave como a morte
Esse tal perfume inseticida
Rosas estranhas que envergonham
Que caiu sobre Hiroshima.

Estranhas pétalas cor de rosa
De uma rosa assombrosa
Veio do céu o desespero
E o desejo homicida
Sobre esta rosa cor de rosa
Dolorosa de Hiroshima.

Estranha essa dor que é sentida
O odor que sente Deus
Inalados por sua ira
Essa flor de corpo cinza
Rosas mórbidas, sólidas, escandalosas...
Sorriso frustrado de menina;

Jamais terás por esquecida
As pétalas de tua rosa
Que apesar de dolorosa
Jamais serão vencidas.

Poeta

Poemas de desilusión :  Coração Doente

Quando dói o coração
Não tem jeito
São lágrimas que vem de dentro
Do fundo do peito
Não sou perfeito
Sou pensamento
Sou folha seca
Que baila no vento
Sem tom, sem cor, sem sabor...
Barco que navega entre a dor
Encalhado no porto
Sem calor, sem amor...
Deveras, eu soubesse
O dia de amanhã, zombaria de hoje...
Esqueceria o ontem
Renasceria depois de amanhã
Mais... Quando dói o coração
O orgulho chora baixinho
De mansinho, bem de mansinho...
É o medo da solidão
Se faz presente todo momento
A transparência do sentimento
Não a hipocrisia, apenas lamentos...
Liberdade sofrida de expressão
Os olhos falam o que sente o peito
Pudera olhares em meus olhos
E conversares com meu coração.


Poeta

Poemas de desamor :  Meias Rasgadas

Hoje acordei
Roupas pelo chão
Café fervendo no fogão
O rádio ligado
Tocando uma canção
Levantei de meias
Rasgadas neste frio chão
Busquei um objetivo
Não tinha nada no coração
Olhei em volta de mim
Não tinha culpa
E nem razão
Ao sair pelo mundo a fora
Estava certo de que procurava
Algo com sentido
Ou a solidão
Olhei para o relógio
O tempo parecia correr
Mais do que as batidas
Do meu coração.



Poeta